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domingo, fevereiro 20, 2011

O NOVO DISCO DO RADIOHEAD

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                                                                                 Por André Mont'Alverne

"É sexta-feira, é quase fim de semana, e é lua cheia", foi o que o guitarrista do Radiohead, Ed O'Brien, deixou escrito no site da banda no último dia 18 de Fevereiro, como sendo a única explicação para o adiantamento do lançamento do novo disco da banda que estava marcado para sair no dia seguinte. Mas eu não vou perder tempo falando sobre a forma como o disco foi lançado na internet, deixamos isso para os profissionais de marketing. Vamos para a música.

Antes de qualquer coisa, tenho que dizer que a minha análise é feita de forma errada. Na frente do computador, tecendo opiniões com base em poucas audições do disco e ainda pensando e escrevendo sobre isso, ou seja, pode ser que tudo mude amanhã, ou depois, ou daqui a um ano, ou mais.

"Bloom", o disco começa meio desconcertante, fugindo dos ritmos com melodias quebradiças em meio a um caos eletrônico de batidas incômodas. Muito barulho sem nexo e gritos extensos não me agradam. Não pretendo ouvir novamente.

"Morning Mr. Magpie", a voz de Thom Yorke parece querer limpar toda a sujeira de sons alarmantes que surgem do nada. A sensação que se tem é a de não saber pra onde ir. Ouço essa faixa tentando prever o que vem a cada segundo e penso o tempo todo "é agora!", mas não! Nunca é, me engano a cada momento. Precisa de mais tempo e paciência. 

"Little by Little" começa, PORRA RADIOHEAD! NÃO ME MATA DO CORAÇÃO". Eu já a imagino como será isso ao vivo. Os efeitos são conduzidos pela voz macia de Thom Yorke e a sincronia é arquitetada de forma repetitiva, mas tá longe de ser cansativa. Quero dirigir de noite, na chuva fina, ouvindo isso. Antes de passar para a próxima, eu ouvi essa faixa por mais de dez vezes. Linda, perfeita, já valeu os 4 anos de espera.

Seguindo para "Feral", que lembra a primeira faixa, só que menos perturbadora. Soa como uma longa vinheta onde a voz de Thom Yorke funciona como um instrumento, por isso foi definida como uma faixa instrumental. Esquisitiçe típica da banda, frenética com batidas rápidas seguidas de breves pausas que preparam meus ouvidos à espera de um clímax harmonioso. Segue assim até o final. É uma música que os computadores ouviriam se tivessem sentimentos.

"Lotus flower" é uma faixa bem pop. Foi a primeira música que eu ouvi do disco pelo fato dela ter sido escolhida como primeiro single que já conta com um vídeo maravilhoso, onde Thom Yorke dança como um Jamiroquai epilético, mas eu acho que a intenção dele era dar uma de Michael Stipe ou Ian Curtis (muita calma nessa hora, Thom!). É uma canção trabalhada, melodiosa e envolvente que usa os recursos eletrônicos na medida certa, perfeita para os ouvidos de quem ainda se apega a álbuns como o “Ok Computer”. Não é nenhuma surpresa, é bem Radiohead mesmo, por isso é uma música excelente com destaque para o timbre de voz Inconfundível de Thom Yorke.

Em "Codex" tudo fica em câmera lenta e sombrio com o piano tomando conta da canção. Pode ser considerada a "Videotape" desse disco. Aqui é quebrada de vez a continuidade eletrônica do disco, dando lugar a uma misteriosidade que só o Radiohead sabe lhe dá. Certamente irei escutar mais vezes. A voz de Thom é qualquer coisa, como...AH!...Sem palavras. Escutem isso!

"Give Up The Gost" poderia ser uma música à capela. Não consigo falar de nada dessa música que não seja esse dom divino que o Thom Yorke recebe cada vez que ele abre a boca. A voz dele não precisa de força nenhuma pra atingir tons elevados, é límpida e melancólica naturalmente e atinge meus ouvidos de forma clara e crescente, como a luz do amanhecer (Se a música é uma viajem, não custa nada viajar nas palavras também). É muito bom escutar isso.

"Separator" tem mesmo cara de última música, o baixo lembra "All I Need" e as batidas flertam com pequenos toques agudos de guitarra que vão surgindo na hora certa. Dessa forma, o disco termina excluindo totalmente a impressão errada do início. Os acordes bem trabalhados me dão uma sensação de que fizemos as pazes. Mas, na verdade, eu nunca briguei com essa banda, só olhei de forma esquisita, porém, não mais esquisita que algumas coisas que eu ouvi deles nesse disco.

"The King of Limbs" é um disco que abusa da exploração de ambientes eletrônicos. É sombrio, e segue a mesma linha experimental dos álbuns "Kid A" e "Amnesiac", só que agora com tempero dub. O vocal de Thom Yorke é puro e suave como água cristalina, realmente é uma aula magistral de canto, talvez por isso, esse disco pareça mais com um trabalho solo do Thom Yorke. Ele conseguiu sumir com o talento indiscutível de seus companheiros de banda, que estavam mais presentes no último trabalho "In Rainbows".
 
Eu e André - Show do Radiohead - SP/2009
Para quem estava esperando mais uma reviravolta musical, o novo álbum do Radiohead pode ter deixado a desejar. Esse disco me parece uma encruzilhada, um momento de incertezas. Não dá pra dizer que isso seja uma evolução. Em relação a "In Rainbows", definitivamente, a banda dá alguns passos para trás assim como o "Kid A" em relação ao "Ok Computer". O que pode incomodar é a impressão de acomodação. Maaaais...por outro lado, tenho quase certeza que essa sensação de desconforto está nos planos da banda. Pode ser ótimo, pode ser que eles estejam ganhando fôlego pra tentar algo diferente.

Fiquei com uma sensação de que está faltando alguma coisa aí, a verdade é que quando a expectativa é muito grande, se a resposta não for de um alto nível de excelência e inovação, então todos, ou grande parte das pessoas, vão reclamar e exigir a mesma sensação presente nas inúmeras obras-primas que compõe a invejável discografia da banda.

Pode ser também pelo fato do disco ter somente oito canções divididas em apenas 38 minutos. Mas convenhamos, o Radiohead nunca é só o que parece ser, então, pode ser que ainda haja alguma surpresa vindo por aí. As minhas preferidas, até agora, são: “Little By Little” e "Codex" e “Lotus Flower”.

7 comentários:

  1. tô sacando muitas opiniões parecidas com a tua espalhadas pela rede. não tive essa impressão ruim não. na verdade, esperava algo mais anticonvencional mesmo, uma vez que o In Rainbows tinha gosto de OK computer, imaginei que o próximo seria mais Kid A ou Aminesiac. e já achei The King of Limbs melhor que esses dois últimos citados. mais dançante e melódico, até mais uniforme, diria.
    sempre me impressiono com esses caras. COMO ELES SEMPRE CONSEGUEM? tem simplesmente a discografia mais perfeita do rock. até agora não me decepcionaram nenhuma vez.

    me alegro a cada novo lançamento do Radiohead e, definitivamente, os caras são a melhor banda de rock na ativa hoje em dia. bom saber que em meio as mesmices e repetições sem sentido da industria fonográfica, ainda contamos com o som viajante desses caras.

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  2. Não fiquei com impressão ruim não Raoni. só achei que algumas esquisitiçes do início do disco, foram em doses exageradas, mas banda tem muuuuito crédito comigo...a impressão que tive foi a de que está faltando alguma coisa aí...ao redor do mundo os a maioria dos fãs do Radiohead sugerem a possibilidade de haver um segundo volume a caminho. O título da canção que fecha esse disco dos Radiohead, "Separator", é um dos maiores fatores que sustentam esta teoria...fora as várias musicas que o Thom Yorke apresentou na turne solo que ele fez com o Flea, que não estão em disco nenhum...Agora vc achar esse disco superior ao Kid A, AÍ eu acho que vc está sendo muito "OPTIMISTIC" rsrs...vamos esperar 10 anos e comprovar...abraços!!!

    PS: Não consigo parar de ouvir Little by Little..ja entrou para o meu top 10 da banda...e tá subindo!! é magnifica!!

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  3. Cara, quer fazer uma resenha boa? ouça o disco (básico), pegue as letras e aprecie cada detalhe do disco.

    Chavões como "esquisitice" não colam com o Radiohead.

    Se você nunca pegou numa guitarra ou não aprecia engenharia de som, não entederá mesmo, ouvindo uma ou 2 vezes um disco trabalhado como esse novo da banda.

    A tendência é considerar tudo batida eletrônica mesmo.

    Mas, há pouca eletrônica no disco, Bloom por exemplo, vc ouviu a orquestração? Ouviu o baterista num outro compasso? o baixo jazzy? CLARO QUE NÃO, vc só ouviu batidas e esquisitices. É pouco ouvido pra avaliar um disco de uma banda como os Radiohead.

    Se se esforçar e tiver humildade, ouvirá meu conselho. No mais, você escreve bem até.

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  4. Vc pode ser formado em musica, com pós graduação e mestrado no exterior...tocar 20 instrumentos e até ter dividido o palco com miles davies...no final das contas, o que importa é a emoção que a música passa pra quem tá ouvindo...sendo ela esquisita ou não, alias, pra esquisito basta fugir dos padrões, não ser usual e sim fora do comum...essas caracteristicas colam perfeitamente pra falar do som do Radiohead, não que isso seja ruim...nesse caso, é muito pelo contrário...Bem, isso é o que os meus únicos dois ouvidos acham disso tudo. Eu acho que é o suficiente.

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  5. De Fato André, porém, resumir isso num texto, como se isso sintetizase uma música e portanto garantisse que ela fosse (boa ou ruim) eu sempre discordo.

    Acho muita mais válido, ouvir a canção que se atentar pra ela em si.

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  6. Elton, agora que percebi que somos do mesmo estado.

    Pará.

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  7. Como assim? Eu e meus colaboradores somos do Amapá.

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