Crônica de Ronaldo Rodrigues
É sempre assim quando vou gozar. Olho para a parede cinza do meu quarto e fico pensando no que ela significa para mim. Ela, a que me refiro, não é a parede cinza. É a mulher com quem transo.
Finalmente, chego ao gozo e a mulher, a quem dediquei minha melhor performance, volta para seu lugar, embaixo da cama. Não. Não é uma revista de nus femininos. Nem uma boneca inflável. É uma mulher mesmo.
Volto a olhar para a parede cinza. Volto a pensar no que ela, a mulher, significa para mim. No que as mulheres significam para mim. Estendo o pensamento para uma aranha, que faz sua teia na antena da televisão. O que essa aranha significa para mim? O que eu significo para a aranha? O que eu significo para mim? O que, finalmente, a vida significa para mim?
Poderia ficar aqui pensando essas coisas, infinita e indefinidamente, mas, neste momento, meu organismo já se recuperou da trepada e quer mais sexo. Puxo a mulher do seu lugar, embaixo da cama, e agora reconheço: ela significa tudo para mim.
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Do fundo do baú, a vida me acena. Estive com ela há alguns dias. Ela estava bem, apesar da tosse insistente. Naquela ocasião, convidei a vida para um passeio. Me vesti da vida e saí pela cidade a esmo, como sempre. Vi pessoas que não me viram, cumprimentei alguns conhecidos e fiquei com a mão no ar, esperando que alguém a apertasse.
Minha vida sorriu e me olhou assim de soslaio. Isso queria dizer que ela não estava satisfeita. Argumentei que a coisa iria melhorar. Era só ir ao lugar certo, encontrar as pessoas certas.
Voltei com minha vida e a devolvi ao baú, de onde ela me acena agora. Fecho o baú e vou embora. Quem sabe um dia eu dê mais sorte e ofereça à minha vida um pouco mais de diversão...
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