Estamos num ringue de boxe, segundos antes do Combate do Século, como dizem os jornais.
Fora do ringue, ocupando todas as cadeiras do estádio, a turba enlouquecida grita o nome dEla. Aquela torcida gigantesca e apaixonada é toda para Ela.
Ela, a Máquina, é um potente computador de última geração, de avançada fabricação japonesa.
Tem história, curriculum vitae, tradição oriental, árvore genealógica, pedigree e mapa astral. E está desde tempos imemoriais programada para me destruir.
Eu não tenho absolutamente nada, além do medo hereditário que me aprisiona ao estado de animal humano diante da sentença de morte: o embate fatal, inevitável.
A Máquina irá me estraçalhar no primeiro round. E a turba enlouquecida, ávida por sangue, no último estágio de histeria coletiva, terminará o massacre. Pisará meu corpo desfalecido, chutará minha cabeça esfacelada.
Estou sufocando, suando, tentando a todo custo continuar respirando! Quero gritar! Me levantar! Correr! Me libertar! E não consigo! Não consigo! Não...
– Nããããããããããããããããããããããããããooooooooooooooooooo!
Acordo atarantado e a Máquina, ao meu lado na cama, me acalma com todo tipo de carinho. Somos casados há oito anos e sempre sonho que um dia seremos adversários mortais.
Ronaldo Rodrigues
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