Existem, em todo lugar, algumas injustiças históricas. Dizem que o brasileiro não tem memória. Concordo. No Amapá não é diferente, o pioneiro do antigo Território Federal do Amapá e militante da cultura local, Nilton Cardoso, é um destes casos.
Natural de Uruçuí (PI), o militar piauiense, herói da Segunda Guerra Mundial, veio para Macapá em 1946, a convite de seu amigo e então governador do antigo Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes. Cardoso se estabeleceu na capital e por aqui constituiu família.
No mesmo ano, na capital amapaense, Nilton, que entendia de cultura em várias vertentes, deu grandes contribuições para nossa Macapá. Foi o fundador da Biblioteca Pública de Macapá, hoje Biblioteca Elcy Lacerda.
Em 1948, foi fundador e diretor do Museu Territorial, que funcionava dentro da Fortaleza de São José. No ano seguinte, Nilton foi pioneiro em expedições arqueológicas no Amapá, onde acompanhou arqueólogos americanos em escavações pelo Rio Maracá, Rio Vila Nova, Rio Araguari e município de Amapá.
Daí não parou mais, se especializou em Arqueologia, explorou e mapeou sítios arqueológicos nas regiões de Cassiporé, Cunany e Calçoene, além de territórios indígenas. Versátil, também trabalhou com Zoologia e ocupou vários cargos do serviço público local. Em 1963, voltou a trabalhar com cultura, pois foi nomeado diretor do Museu Joaquim Caetano da Silva, em Macapá.
Durante suas aventuras, Nilton Cardoso acumulou um grande acervo histórico. Ao deixar o serviço público, em 1963, doou ao Museu Territorial cerca de 4916 peças de Zoologia, 254 de Arqueologia, das antigas civilizações indígenas do Amapá. Entre elas, urnas funerárias antropomorfas e zoomorfa; uma coleção e moeda e cédulas antigas, além de duas coleções do Jornal Pinsônia, primeiro impresso amapaense.
Essas peças estão catalogadas e expostas no Museu Joaquim Caetano da Silva, no centro de Macapá.
O velho militante cultural e pioneiro do Amapá morreu em março de 1987, aos 68 anos, vítima de um infarto fulminante. Segundo seu filho, Enilton José Cardoso, não existe nada com o nome do pai, nenhuma rua ou qualquer outra homenagem a este cidadão que contribuiu, e muito, para as peças deste grande quebra cabeça, chamado história. Uma falha que ainda pode ser corrigida.
Elton Tavares
*Escrevi essa matéria em 2010, para o extinto Correio do Amapá, com o pseudônimo “Renato Flexa”. Na época, trabalhava como assessor de comunicação e fui proibido de redigir para impressos. Driblei a proibição e produzi alguns textos para o jornal.
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