Há
exatos 18 anos, em 7 de janeiro
de 1996, por volta das 18h30minh de um domingo, morreu, aos 69 anos, João
Espíndola Tavares, meu avô paterno. Espíndola, como era conhecido em Macapá, foi
delegado, diretor da Penitenciaria Agrícola do Estado (hoje Iapen), entre
tantos outros cargos públicos. Um pioneiro da capital amapaense. Um homem de
quem tenho a honra de descender.
Ele
nasceu em 27 de janeiro de 1927, filho de Gracindo Nelson Espíndola e Raimunda
Emiliana Espíndola, na Região do Alto Maracá, no Sítio Bom Jesus, uma região de
difícil acesso, no município de Mazagão.
Vovô
também foi prefeito de Mazagão, onde se casou com a minha amada avó, Perolina
Penha Tavares. Lá nasceram o meu pai, José Penha Tavares e meus tios, Maria
Conceição Penha Tavares e Pedro Aurélio Penha Tavares. João era um visionário
doméstico, pois resolveu vir morar na capital para que os filhos tivessem
acesso à educação.
Em
Mazagão, seu patrimônio era relativamente grande para um interiorano da década
de 40. Entre os bens, estavam galpões para a armazenagem de Castanha do Pará,
barco com motor de popa e motor de energia elétrica, que abastecia a vila de
moradores da propriedade.
Já
em Macapá, nasceram os filhos Maria do Socorro Penha Tavares e Paulo Roberto
Penha Tavares. Com força de vontade e determinação, Espíndola também conseguiu
sorver conhecimento e concluiu o segundo grau (hoje ensino médio) na Escola
Gabriel Almeida Café.
Além
do sucesso no campo profissional e pessoal, João Espíndola foi um estudioso da
filosofia maçônica. Vovô atingiu o ponto alto da nobre ordem, o “Grau 33”. Ele
foi muito respeitado pelos membros da augusta arte real. Vovô foi um dos
amapaenses presos injustamente, durante o golpe militar de 1964, mas provou sua
inocência com altivez e retomou sua gloriosa vida.
Uma
curiosidade sobre o velho João era que, diversas pessoas o procuravam em sua
residência, no centro de Macapá, em busca de conselhos. Eram ricos, pobres,
brancos, negros, de diferentes posicionamentos políticos e religiosos. Às
vezes, ele nem falava nada, só escutava o desabafo daqueles homens, que já
saiam do muro das lamentações (apelido dado a uma área ao lado da casa, pelos
seus filhos), de alma aliviada.
Pouco
antes de seu falecimento, Espíndola vivia um bom momento. Havia criado os
filhos com sucesso, tinha uma bela casa, uma família unida e era respeitado no
Estado. Ao envelhecer, o pátrio poder deixou de existir, tornou-se um grande
amigo de seus filhos.
Em
uma ocasião, durante um festejo em sua residência, João agradeceu sua mulher por
todos os anos de dedicação. Disse-lhe, em frente a familiares e amigos, que devia
muito a ela pelo grande homem que se tornou. Sou tão fascinado pela trajetória de meu avô, que o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de jornalismo foi sobre sua história.
Nosso
patriarca partiu para a outra vida vítima de um acidente automobilístico, na
zona Sul de Macapá. Ele dizia que gostaria de morrer “pulando” e assim
aconteceu.
Cerca
de 500 pessoas foram ao seu funeral, dentre elas, secretários de Governo,
políticos, empresários e cidadãos comuns, pois apesar de frequentar a alta roda
da sociedade amapaense, Espíndola não tinha comportamento elitista, era amigo
de “peões” e “doutores”, tratando-os da mesma maneira.
O
vô sempre foi sincero, íntegro, carinhoso, especial, atencioso, cauteloso,
cordial, caloroso, honesto, qualificado, contemporizador e fascinante. Em nota,
a Maçonaria divulgou: “Durante sua estada
entre nós, sempre foi ativo colaborador e possuidor de um elevado amor fraterno”.
A
história deste homem, que foi uma das figuras mais populares do município de
Mazagão e da cidade de Macapá, é de uma magnitude e nobreza, que até parece uma
obra de ficção. Ele não foi perfeito, mas, com toda certeza, foi um grande
exemplo de pai, cidadão e ser humano. Tenho orgulho de ser o mais velho dos
seus nove netos. Saudades eternas!
Elton Tavares
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