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terça-feira, julho 09, 2013

Festa em Mazagão Velho, no Amapá, completa 236 anos

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Por Gabriel Penha

A cidade histórica de Mazagão Velho - um distrito do município de Mazagão localizado a 70 quilômetros de Macapá - se prepara para viver mais uma Festa de São Tiago, tradição que completa 236 anos este ano. Trata-se de um evento religioso e cultural, que mistura sincretismo religioso, cavalhada e teatro a céu aberto.

O calendário da programação inicia dia 16 e vai até o dia 28 de julho. O momento mais esperado é nos dias 24 e 25 de julho, com a encenação teatral, dividida na 'Entrega dos Presentes' e 'Baile de Máscaras', no primeiro dia, e missa campal, círio e representação da guerra entre mouros e cristãos no segundo dia.

'Atores' da comunidade

Outra particularidade da festa é quanto a falta de formação teatral para representar e incorporar os personagens. Moradores da própria comunidade são os atores. Eles são impedidos, inclusive, de fazer cursos de interpretação sob o temor de perda da identidade de mais de dois séculos.

"Fazemos o que aprendemos desde criança. E era assim com nossos pais, nossos avós. Pela beleza e grandiosidade de nossa festa, a tradição é mantida mais importante do que uma eventual formação teatral", argumenta Francisco Canindé Jacarandá, 39 anos. Ele detém o papel de chefe dos cristãos.

Antes, os cavalos usados para as cavalgadas andavam soltos pelas ruas de Mazagão Velho. Hoje, por uma questão de saúde pública estão acomodados num estábulo, construído pela Associação Cultural da Festa de São Tiago (ACFST), entidade criada para organizar a execução da festa.

"Precisávamos de um espaço permanente, para que esses cavalos não ficassem mais vagando pelas ruas. Hoje, são cuidados e alimentados pelos próprios membros da cavalaria de São Tiago", explica o presidente da ACFST, André Luiz Jacarandá.

Quem nasceu no município de Mazagão aproveita as férias de julho para retornar a cidade e aproveitar o período festivo. "Das muitas alegres certezas que o típico mazaganense tem em sua  vida está a de que, no dia 25 de Julho, em Mazagão Velho, haverá um missa, haverá uma procissão e haverá  uma batalha", conforme escreve a professora e psicóloga mazaganense Nelcirema Pureza.

Desde o ano de 1777, os mazaganenses usam o teatro para recontar a aparição de São Tiago como um soldado que lutou ao lado dos cristãos na guerra contra os mouros, na Idade Média. A tradicional festa é 16 anos mais velha que o Círio de Nazaré, de Belém (PA) e encontra semelhanças em eventos como a Cavalgada de Pirenópolis (GO).

Mas a celebração amapaense tem uma particularidade: foi trazida do outro lado do Oceano Atlântico, pelos primeiros colonizadores marroquinos, que fizeram uma jornada para o Amapá, no século 18. O culto ao guerreiro Tiago já era tradição em países como Marrocos, Portugal e Mauritânia.

Rituais carregados de fé e emoção

“Puxo a espada da bainha, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Juro pela cruz da minha espada, que só a colocarei na bainha quando pôr fim a essa batalha com a minha vitória”. Com estas palavras, o figurante faz, na tarde do dia 25, na frente da igreja Nossa Senhora da Assunção, o juramento de São Tiago, um dos momentos mais esperados da encenação.

O primeiro festejo em louvor ao Santo aconteceu em 1777, sete anos depois da fundação da vila, realizado por famílias de colonos negros vindos da costa africana em decorrência de conflitos político-religiosos existentes na região. A transferência dessas famílias para a Amazônia foi uma verdadeira odisseia e a encenação era uma forma de manter viva uma tradição dos ancestrais continente africano.

No sul do Amapá, o primeiro lugar a ser colonizado por essas famílias foi Mazagão Velho. Posteriormente, a sede do Município passou para Mazagão Novo, onde permanece até hoje. Contudo, a festa nunca ameaçou sair de Mazagão Velho, onde em este ano completa 236 anos.

Dança “Vominê”

Ritual da tradição mazaganense, no primeiro dia de festa, 16 de julho, acontece alvorada festiva, na qual se dança o “Vominê” e, após a dança, o Arauto com a imagem de São Tiago percorre as ruas da Vila de Mazagão Velho, anunciando o início das festividades. A partir daí há, diariamente, novenas na igreja de Nossa Senhora D'Assunção, ocasiões em que o Santo Glorioso é exaltado com orações e queima de fogos.

O Vominê é a dança que reproduz a comemoração da supremacia dos Cristãos após a consolidação da vitória sobre os Mouros. Durante os 12 dias da festividade é dançado em residências de famílias tradicionais de Mazagão Velho, por volta de cinco horas da manhã, nas alvoradas festivas - sempre com salvas de tiros. À tarde é a vez das crianças participarem da dança.

Como forma de agradecimento, a família anfitriã oferece um lanche, quase sempre biscoito com suco ou café para as crianças e em alguns casos, bebida alcoólica para os dançantes adultos. Uma dessas bebidas é a “gengibirra” - um tipo de batida feita com gengibre -, também servida na dança do Marabaixo, que faz parte da cultural amapaense.

As ladainhas, as salvas de tiros, as alvoradas festivas e o Vominê nas residências da vila são os traços mais marcantes da Festa de São Tiago e durante oito dias são símbolos que antecedem o ponto máximo da festa: a encenação teatral da batalha entre mouros e cristãos, dividida entre os dias 24 e 25 de julho.

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