Seguidores

terça-feira, março 09, 2010

Alieneu Pinheiro, uma lição de vida

2
                                                                                              Por Elton Tavares
Meu amigo Alieneu, sempre com um sorrisão estampado no rosto

Salve amigos! Amanhã (10), no Teatro das Babeiras, no centro de Macapá, será a minha outorga do curso de Comunicação, com habilitação em Jornalismo. Mesmo com o Supremo Tribunal Federal (STF) ter rasgado o meu diploma antes mesmo de eu recebê-lo, estou muito feliz. Hoje falarei de um colega que se tornou amigo, uma verdadeira “lição de vida”.

Durante os quatro anos que passei na faculdade, convivi com muita gente, uns legais e inteligentes, outros, idiotas e fúteis. Um caso que chamou a atenção de todos foi o do Alieneu Pinheiro, de quem me tornei amigo.

Alieneu nasceu em Macapá, no dia 30 de agosto de 74. Quando tinha um ano e nove meses e vida, foi vítima de Poliomielite, enfermidade que o tornou um cadeirante. Todos nós conhecemos pessoas que chamamos de “viradas”, gente trabalhadora, que vence adversidades com sorriso no rosto. Assim é Alieneu.

“Agradeço ao todo poderoso por ter permitido isso, imagine se eu tivesse adoecido com 12 ou 16 anos? Teria ter de lutar com a minha aceitação e seria muito difícil. Como a doença se manifestou ainda criança, vejo a minha vida assim, não tenho de lutar comigo mesmo”, afirmou Alieneu.

Alieneu explicou como se interessou pela nobre profissão:

“Na adolescência eu tinha o sonho de ser advogado. No ensino médio eu tinha um amigo, Alan Sotelo, conversarmos em fazer o vestibular da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) para o curso de Direito. Ao terminar o ensino médio, ele tentou e passou.

Eu não cheguei a fazer o vestibular e me acomodei por muito tempo. Aos 30 anos, pensei: ‘tenho de correr atrás de um profissão’, então me escrevi para o vestibular da Seama, me escrevi para direito, e a minha segunda opção de curso foi jornalismo. Não consegui passar em direito “graças a Deus”, então me matriculei no curso de jornalismo e aqui estou. Amo o que eu faço”, disse ele.

A “deficiência” é somente uma vírgula na sua vida, já que ele consegue fazer tudo e até mais que muitas pessoas. Contudo, Alieneu disse que sofreu muitos preconceitos, infelizmente, as coisas ainda são assim, não só no Amapá, mas no Brasil e mundo.

“Lembro que um dia fui ao banco receber, fui de mototaxi; entrei na agencia e saquei o dinheiro. Ao sair tive de ficar em frente ao banco para esperar o moto-taxista foi ai que um cara se aproximou e me ofereceu 5 reais, fiquei sem jeito, mas falei a ele que eu não precisava, e que tinha acabado de receber. Ele disse que era a primeira vez que ele via um deficiente recusar dinheiro. Sabe o que é, a sociedade vê o deficiente como uma pessoa que só serve pra pedir...esquece que ele pode ser útil a essa sociedade. é só ela nos dá um oportunidade que podermos provar isso”, desabafa.

É amigos, mesmo com uma Lei que determina que pelo menos 2% do efetivo das empresas deve ser composto por deficientes físicos, não é bem assim que acontece. As empresas estão começando a cumprir a legislação, mas o desemprego ainda é grande entre os portadores de necessidades especiais.

Existe falta sensibilidade do empresariado em ampliar o número de vagas. Além disso, o despreparo e falta de qualificação profissional de quem precisa de educação especial é outro problema. Alieneu Pinheiro faz parte da estatística de portadores de necessidades especiais que conseguem ingressar no mercado de trabalho. Ele está em um grupo ainda mais restrito, porque não possui apenas um, mas dois empregos.

Alieneu é exceção, além de estudar na Seama, ele trabalha há quatro anos na própria faculdade e conseguiu um outro emprego no contra turno no setor administrativo de um estabelecimento de saúde.

Resolvi escrever sobre Alieneu por conta da sua história bonita, sofreu preconceito, dificuldades financeiras, enfim, uma série de adversidades, mas tudo com um bom humor invejável e quase inabalável. Ele é, com toda certeza, uma dessas pessoas com espírito guerreiro, que não precisam de pernas para correr mais rápido que os estúpidos.

Eu fui várias vezes á pé para casa, junto com Alieneu. Na época, eu estava fazendo dieta e andar os 3 ou 4 km (não sei ao certo) do Seama para a minha casa ajudava muito. Íamos conversando sobre o curso, sobre colegas e afins. Ele sempre me chamava atenção sobre as minhas freqüentes faltas: “Porra gordo, tu estás vacilando, vamos levar o curso á sério”.

Outro fato que nunca esqueço é a frase: “Eu já vou, não posso beber muito, pois estou dirigindo”. Ele sempre dizia isso quando estávamos no boteco em frente á faculdade, após tomar algumas cervas.

Infelizmente, minha turma não levará o nome de Alieneu. Apesar de eu gostar muito do homem que receberá esta homenagem, o professor Carlos Magno (outro espírito iluminado). Eu não fui à reunião que definiu isso, mas foi uma falta de discernimento tremenda. O importante é que estaremos juntos amanhã, no momento que esperamos durante quatro anos.


2 comentários:

  1. O Alieneu é mesmo um guerreiro, quem convive com ele sabe o grande cara que ele é...

    “Eu já vou, não posso beber muito, pois estou dirigindo” Essa foi engraçada, já ouvi outras frases assim dele... Ele é mt divertido! ^^

    ResponderExcluir
  2. Amigos,
    Diplomas não valem tanto. Conhecimento sim!
    Com ou sem diploma, o que vale é dignificar a profissão escolhida e exerce-la com dignidade a exemplo do Alieneu e tantos que o fazem.

    ResponderExcluir