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terça-feira, março 30, 2010

José Penha Tavares, meu pai, meu herói

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                                                                                                      Por Elton Tavares
Momentos de Zé Penha - Saudade.

Há 12 anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu José Penha Tavares, o meu pai. O meu herói. Filho de João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares. Nasceu no município de Mazagão, de onde veio o casal. Era o primogênito de cinco filhos. Ele começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem não os comete? Na verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não diminui o grande homem que ele foi.

Em 1975, casou-se com minha mãe, Maria Lúcia, com quem teve dois filhos, eu e Emerson. Costumava me chamar de “Zôque” ou “Zokê”, não sei ao certo como se escreve, mas a pronúncia era esta (algo relacionado à um comercial de motos Suzuki, que eu, quando pequeno, achava engraçado).

O velho não foi um marido perfeito, era boêmio como eu e um tanto “namorador”, motivo que o levou se divorciar de minha mãe, em 1992. Li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde ele trabalhava, após o seu falecimento: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos, mas quem se atreve à culpá-lo por este extremo defeito?”

Zé Penha pode não ter sido um marido exemplar, mas certamente foi um grande pai. Cansou de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as melhores roupas ou os bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas, dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir tais peculiaridades.

Penha não gostava de se envolver em política, achava o jogo sujo demais. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preto, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Era um cara extraordinário.

Esportista, foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das incontáveis peladas.

Atravessamos tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de amizade extrema, ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.

Não é correto rotular ou condenar a conduta e o estilo de vida das pessoas, cada um é único em sua essência. Papai tinha uma maneira de viver contrária às proibições e regras que regem o convívio social, mas conseguia o equilíbrio, mantinha uma postura de respeito e solidariedade para com os demais. Uma pessoa diferenciada em meio a uma sociedade repleta de ganância, ódio e frustração.

Certa vez, em uma festa, após eu sair na porrada com um cara, um homem aparentando uns 40 anos, disse-me : “Você é filho do Penha né? E eu: “Sim”. Ele : “Então faça como seu pai, ele sabia entrar e sair de qualquer local”. Verdade, eu era chegado numa porrada, mas meu velho era da paz, era bom, um diplomata, o cara que não tinha desafetos, meu herói imperfeito, aquele cara era foda! Com ele, aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, aprendi que para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.

Acredito que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os 13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne ”, como ele mesmo brincava.

Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para a Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele. As pessoas morrem, mas elas nunca morrem em nossos corações.

José Penha Tavares foi muito mais de que pai, fomos grandes amigos. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu comigo ou vi acontecer com alguém”. A ele, dedico este texto, minha profunda gratidão e amor eterno.

Depoimentos do meu irmão e de meu tio:

“Papai sempre, aos meus olhos foi um cara admirável (mesmo tendo muitos defeitos), como ele era parceirão com todos, onde chegava, em qualquer roda, era bem quisto! Como pai não tenho o que reclamar. Nunca nos faltou nada, nada mesmo, sempre fomos bem vestidos, sempre tínhamos o brinquedo da moda, nos levava para comer fora e viajar (mesmo ele estando roçado, não deixava isso transparecer para gente) amava e amo ele demais, minha infância e de meu irmão foi perfeita graças a ele e nossa querida mãe!

Deixou marcado na gente o que é ser gente boa e companheiro com os outros (família e amigos). Sempre nos espelhamos nele, no modo de tratar as pessoas que gostamos, ou seja, ele nos ensinou o segredo da vida no meu modo de ver.

Quando falam que tenho o jeito dele, para mim, é um elogio, porque meu pai era um homem admirável, um verdadeiro ser humano! Pai como eu queria que você visse como estou, tivesse visto minha formatura, acompanhado meu crescimento pessoal e outros momentos destes 12 anos. Ás vezes me emociono, choro só, pensando nisso. Continua com Deus papai. Te amo e te amarei pra sempre!”

Emerson Mauro Vale Tavares

“O Zé Penha era aquele cara que todo mundo gostaria de ter como amigo. Gentil, humano, solidário, alto astral, IRMÃOZÃO. Sinto muita falta dele. Muito inteligente e perspicaz, percebia as carências dos que o circundavam e sempre, sempre mesmo, encontrava um jeito de ajudar.

Lembro que em um dos dias mais triste de nossas vidas, que foi o da morte de nosso pai, disse: “Nós nunca dizemos o suficiente para as pessoas o quanto nós as amamos.”

Eu, durante a vida dele, também não disse o suficiente o quanto eu o amava. Sou eternamente grato a Deus, por ter me dado uma família maravilhosa, da qual o Zé Penha era o primogênito. E sinto muito orgulho de dizer que eu era irmão dele. Continuo cheio de saudades desse meu grande irmão.”

Paulo Roberto Penha Tavares

7 comentários:

  1. um homem simplesmente extraordinário na sua essencia...muitasssss saudades =)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Tive a grande oportunidade de conhecer esta figura impar! Um grande homem, do tipo que cae bem a expressão "espirito iluminado", porque era daquelas pessoas que todos gostavam.
    Por vezes penso, sobre estas pessoas boas que foram embora cedo, como o Penha e minha irmã, que, pelo fato de serem pessoas tão do bem, Deus as chama logo para tê-las mas perto dele.

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  4. A saudade é uma coisa que nunca se consegue explicar com precisão, por mais que se tente. Mas é um sentimento impar que só as pessoas que mesmo de uma forma torta conseguiram tocar nossos coraçoes...
    Tio Penha...chamava assim...Adorava carregar a gente segurando pela cabeça..rs...
    Nossas lembranças são eterna companhia e amores infinitos..

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  5. Uma pessoa formidavél que por onde passava conquistava todos com seu encanto,tio incrível.
    Eternas saudades, amor inabalável.

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  6. Li, seu texto no qual falava a respeito de seu pai. O vi, como a um retrato, pois me senti projetada ao passado. Lembrei-me de momentos em flash...Como no carnaval , sua voz rouca, seu sorriso acolhedor ao me encontrar, da casa dos congós, do ar de conquistador, da terça-feira do Projeto Botequim, do nosso reencontro em Belém, após o inicio da quimio, já mais magro e abatido, e com algumas marcas no corpo, lembro-me como se fosse hoje, do frio que senti no peito quando cogitei que algo poderia vir a acontecer. Conhecia bem teu amor por ele, e pelas pessoas que ama. Sabia que seria uma grande porrada, no entanto a maior de todas...
    Senti por não ter estado aqui naquele momento que ao meu ver, foi o pior dia da sua vida.
    Fiquei imensamente feliz em poder observar no decorrer de cada linha, as sementes que foram plantadas em você, e que hoje florescem ai dentro. Sementes do respeito, amor e gratidão. “Seu Penha” com certeza é um grande homem, não esta mais aqui, porém não deixou ser..
    Não consegui deixar de escrever,pois essa também foi a minha forma de homenageá-lo.


    Um abraço enorme!


    Elma Vaz

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