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domingo, outubro 24, 2010

Dos Beatles ao Radiohead, entendendo a avalanche de shows internacionais no Brasil

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                                                                                     Por André Mont`Alverne


Um fã de Rock And Roll, como eu, ao ouvir uma música conhecida, automaticamente imagina o nome do álbum que ela foi gravada, o ano de lançamento e em que faixa ela se encontra no disco. Mas as coisas nem sempre foram dessa maneira. Durante muito tempo, o mais importante, era a execução ao vivo. Até a década de 60, todos os bons músicos tocavam ao vivo, e as gravações eram só um registro que você levava para casa de recordação.

Em 1966, a beatlemania estava no auge. Os Beatles já tinham conquistado o mundo. Assim como também já tinham tragado (e prendido) o famoso baseado de Bob Dylan. No meio de toda aquela loucura e gritaria, a banda decidiu parar de fazer shows e só se importar com as gravações em estúdio. Isso, é claro, teve um impacto imediato no mundo da música, levando as gravações de discos dominarem o mercado. Esse acontecimento, abriu as portas para que as grandes obras primas surgissem, de fato, mas isso é uma outra história.

Não estou dizendo que isso foi necessariamente ruim. E nem saberia dizer como seria, se a história tivesse tomado outros rumos. O aspecto em que os Beatles tiveram influência decisiva, foi a de transformar o Rock And Roll, que sempre havia sido um estilo de música para os jovens mexerem as cadeiras, em música para ouvir. E isso não pode ser ignorado.

Muito tempo se passou, muitos artistas e donos de gravadoras ficaram milionários vendendo milhões de discos, e a tecnologia evoluiu muito em torno das gravações de álbuns. Até que então surgiu uma sigla que até hoje é muito pronunciada nas rodas de conversa sobre música em todos os lugares do mundo, o MP3 (MPEG Audio Layer-3).

Segundo os sites de busca, MP3 é um dos assuntos mais pesquisados na internet, perdendo apenas para o “sexo” e seus derivados. Isso graças a revolução que o MP3 causou no mundo do entretenimento musical. Tal revolução simplesmente fez a indústria fonográfica ficar abalada e travar uma dura resistência contra o formato que foi parar nos tribunais de Justiça.

Nós, os consumidores, não poderiamos ficar mais felizes com essa nova realidade. Em meados dos anos 90, tudo que você precisava para ter qualquer música, era um computador, uma linha telefônica e conhecer o programa compartilhador de arquivos chamado "Napster", que surgiu na mesma época do disco “O.K. Computer” do Radiohead. Nesse caso, qualquer semelhança do nome do disco com o que estava acontecendo no mercado da música mundial, eu realmente não sei dizer se é mera coincidência.
O Radiohead, é o tipo de banda que faz o mundo parar quando lança um novo trabalho. É a banda que, assim como os Beatles na década de 60, segura a lanterna em meio a mata escura e mostra o caminho da saída. Em 2007, o Radiohead foi aclamado pelo público e crítica não só pelo lançamento de mais um disco, mas pela afronta a indústria fonográfica. O álbum “In Rainbows”, foi disponibilizado para download no site da banda, e os fãs poderiam pagar quanto quisessem pela obra, ou mesmo não pagar nada.
O sucesso transformou a banda em porta voz dos novos modelos da indústria fonográfica. O Radiohead reclamou da maneira como a indústria musical perseguia a pirataria. Para eles, combater os fãs não chegaria a lugar algum. E não chegou mesmo, apesar do Radiohead ter arrecadado uma quantia razoável na venda desse disco, a música, seja ela rock, brega, soul, funk e etc., se tornou praticamente gratuita.
O que estamos vendo hoje, em decorrência de toda essa longa história, é uma verdadeira avalanche de shows internacionais Brasil, entre eles, o show do Paul McCartney, aquele mesmo que decidiu não fazer mais shows em 1966. O grande motivo para isso, não é a preocupação desses artistas com o meio ambiente, não é por causa do desmatamento da Amazônia, nem pelo futebol e a caipirinha. O que acontece, é que os negócios mudaram muito com a queda na venda de discos, que está praticamente acabada. O foco das bandas agora são os shows ao vivo. Eles vão ter que suar a camisa, e certamente, não vão cobrar barato por isso. Alguns ingressos chegam a custar quase o mesmo valor do nosso salário mínimo ou mais.

Contudo, se você quer ouvir uma boa música, procure que você acha. Ainda existe prazer nisso: escolher, analisar, saber do que se trata, saborear a melodia e se identificar. É infinitamente melhor que ser achado pelas músicas que saem dos "porta-malas" (nome bem apropriado nessa ocasião) dos carros estacionados na orla de Macapá. Mas se você quiser ver o show, prepare-se para pegar um avião. E leve bastante dinheiro com você.

Um comentário:

  1. muito foda a matéria andré, parabéns velho. gostei muito da contextualização e realmente ainda não tinha me tocado do óbvio. isso só reafirma a minha total simpatia com o formato do mp3 e com todas as mudanças ocasionadas por ele. existe uma espécie de prazer perverso em ver todas essas grandes majors da música se deteriorando devido a própria ignorância e conformismo.
    e isso é só o começo, logo logo a industria do cinema e da tv irão enfrentar o mesmo tipo de problema. Darwin nunca teve tão certo: "adaptação ou morte".

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