Por André Mont'Alverne
Cena do filme " A Festa nunca termina".
Desde que Elvis balançou as cadeiras pela primeira vez nos estúdios de Menphis, até o último disco do Arcade Fire, que ainda está quente e com o cheiro do forno, o rock tem criado as mais fascinantes historias ao redor do mundo. Conforta-me pensar que existam momentos onde o tempo possa se estilhaçar e deixar um pedaço seu eternizado no espaço, assim como no romance "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marques.
Eu nasci em 1978, nessa época, o auge do punk rock, as pessoas começaram a se dar conta que idéias podiam ser mais importantes que duradouros solos de guitarra. Idéias todos podem ter, solos de guitarra não é para qualquer um, isso pode levar alguns anos de dedicação. Hoje em dia é fácil de analisar, a historia já aconteceu, mesmo com as mentiras e lendas, ela está aí pra quem quiser conhecer e acreditar.
O filme a "A festa Nunca Termina" retrata exatamente esse período, onde os "mortais" pegaram o bonde chamado rock em andamento, sentaram na janela e pisaram no acelerador. As pessoas se sentiram mais próximas dos Deuses do Rock, se sentiram capazes e pensaram: "Ei, espera aí!! isso eu posso fazer" O destino desse bonde ficou meio que indefinido, haja visto o turbilhão de criatividade e inovação que foi o Pos-Punk e a New Wave nos anos 80. Indefinido mas nunca parado.
A Festa a "A festa Nunca Termina" aconteceu há duas semanas, já faz parte da historia. Acho que a maioria das pessoas que presenciaram a festa saiu daquele lugar com o gosto de "quero mais". O nome da festa se tornou uma ironia com o final antecipado, mas fazer o que? Vivemos em um mundo cheio de regras e quebrá-las podem trazer consequências imprevisíveis. É como atirar latinhas nas pessoas e achar que nada irá acontecer, é a lei da ação e reação. Por exemplo, o Thony Wilson (falecido dono da Factory Records e narrador do filme homônimo a festa) teve que cortar o dedo e escrever o contrato com o Joy Division com sangue, senão a banda não iria assinar com ele.
Todos nós estamos vivendo no Século XXI e já somos civilizados o suficiente para saber que o sangue foi feito pra circular dentro de seus respectivos corpos e não no chão ou no tênis de alguém, então cabe a nós evitarmos esse tipo de colisão e seguir, pelo menos, as regras básicas do bom convívio. Então, jogue lata no lixo. Ou até mesmo no chão, mas nunca em uma pessoa, a não ser que essa pessoa seja o Carlinhos Brown.
há muitas outras similaridades entre a festa e o filme: as traições, a superação de algumas pessoas, a inércia de outras, grandes responsabilidades deixadas de lado por uma satisfação pessoal e etc. Mas esses são apenas alguns itens necessários em toda história que valha a pena ser contada.
O elemento surpresa é sempre surpreendente, ainda mais se tratando em uma festa de rock em Macapá. Ainda lembro, quando eu e meus amigos esperávamos ansiosamente, encostados na parede, a hora que tocava rock nas diversas boates de Macapá, nos anos 90. As clássicas do Cure, U2 e Smiths e pronto, acabou, lá vem o brega e lá vamos nós na direção da porta de saída enquanto na minha cabeça eu ainda ouvia o Morrissey cantando exatamente o que eu queria que acontecesse.
"Hang the blessed d.j.
because the music that they constantly play
it says nothing to me about my life", seria um PÂNICO total.
O fato é que o dia 06/08/2010 foi um dia atípico, depois de uma madrugada inteira pensando nas músicas que fariam parte da festa, inclusive sonhando com isso, as primeiras horas do dia me traziam muitas dúvidas e eu já me perguntava se a festa realmente iria acontecer.
"Cara, eu fechei com um pagode para hoje", dizia o cara do som no telefone. O pagode incomoda até quando eu não estou ouvindo, é impressionante. Por sorte o Guga, tem um irmão, o Fabio, conhecido por muitos como "Rato", que trabalha há muito tempo com pessoas ligadas ao meio musical e nos ajudou a conseguir o som.
Outro grande obstáculo foi a bebida. Não tínhamos a menor idéia de como conseguir, depois que o nosso fornecedor se recusou a atender o telefone. não deve ser fácil trabalhar com bebida, bebida foi feita pra diversão e sem ela fica realmente dificil se divertir em uma festa, seja ela rock ou qualquer outro estilo musical.
Foi aí que um amigo, me deu uma luz e me lembrou do Fernando Bedran. "ele não trabalha mais com bebidas, mas pode ajudar com alguns contatos”. O Fernando Bedran é um daqueles caras que fazem a prática de tomar uma gelada ser muito mais prazerosa. Foi dito e certo. Ele pediu meia hora e resolveu o nosso problema, e agora era só esperar as pessoas aparecerem. E elas vieram. Queria ressaltar a presença de algumas pessoas que sempre amaram o rock and roll como eu, Beah e sua moto, Rebeca Braga, o Vampiro, Bill, e outras mais que não me vieram a cabeça agora.
Gostaria agradecer de coração a todas as pessoas que fizeram parte ou que de alguma forma ajudaram pra que essa festa acontecesse. Em especial a STEREOVITROLA, (Obrigado por ter tocado She's Lost Control sem eu pedir), eu não tenho receio nenhum em dizer que essa é a melhor banda dessas bandas. No final das contas, a balança ficou mais pesada para o lado favorável em todos os aspectos. E realmente valeu muito a pena todo o esforço gasto naquele dia que tem tudo para ter sido apenas um ponta pé inicial.
O Rock nunca morre e A Festa Nunca termina. Abraço à todos.