Sempre que entregamos o cartão da Mega Sena, erramos a pergunta. Não deveria ser o que faria com a bolada, mas quem deixaria de ser. Porque não seria mais ninguém. Nada como uma fortuna para aniquilar uma personalidade. O pobre ainda recebe contas, o milionário nem isso. Não teria mais possibilidade de ser santo, um santo depende do sacrifício, um afortunado é apenas filantropo. Não exerceria mais a generosidade, a bondade surgiria como obrigação. Ou dá ou é avarento. Não seria mais pai, mas Papai Noel, materializando com um clique dos dedos qualquer sonho de consumo das crianças.
Apagaria a chance de chegar em casa com um chocolate escondido entre os pães, a mortadela e o queijo e ser festejado pelos filhos. Não poderia reclamar que quase bati o carro ou ser consolado pela mulher diante do medo da demissão. Abandonaria o ofício, a graduação, assumiria a condição vitalícia de empresário.
Não teria mais amigos, mas empregados. Não teria mais esposa, mas uma sócia. Não poderia puxar conversa, puxaria o talão. Não conheceria mesmo a cor do dinheiro, nunca estaria comigo. Passaria a desconfiar da mãe, do cachorro, numa paranóia constante, certo de que desejam se aproveitar de mim.
Perderia o controle da situação. Ao organizar uma pelada, acabaria em campeonato. Ao fazer um churrasco, desbancaria em orgia. Quando destratado por um garçom, compraria o restaurante. Não lutaria por nada, mandaria. Se eu ganhasse R$ 85 milhões, simplesmente não existiria.
Apesar de tudo, não custa tentar. Preenchi meu bilhete.
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