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quarta-feira, abril 23, 2014

Duas crônicas sem muito o que dizer

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

É sempre assim quando vou gozar. Olho para a parede cinza do meu quarto e fico pensando no que ela significa para mim. Ela, a que me refiro, não é a parede cinza. É a mulher com quem transo.

Finalmente, chego ao gozo e a mulher, a quem dediquei minha melhor performance, volta para seu lugar, embaixo da cama. Não. Não é uma revista de nus femininos. Nem uma boneca inflável. É uma mulher mesmo.

Volto a olhar para a parede cinza. Volto a pensar no que ela, a mulher, significa para mim. No que as mulheres significam para mim. Estendo o pensamento para uma aranha, que faz sua teia na antena da televisão. O que essa aranha significa para mim? O que eu significo para a aranha? O que eu significo para mim? O que, finalmente, a vida significa para mim?

Poderia ficar aqui pensando essas coisas, infinita e indefinidamente, mas, neste momento, meu organismo já se recuperou da trepada e quer mais sexo. Puxo a mulher do seu lugar, embaixo da cama, e agora reconheço: ela significa tudo para mim.

***   ***   ***   ***   ***   ***   ***

Do fundo do baú, a vida me acena. Estive com ela há alguns dias. Ela estava bem, apesar da tosse insistente. Naquela ocasião, convidei a vida para um passeio. Me vesti da vida e saí pela cidade a esmo, como sempre. Vi pessoas que não me viram, cumprimentei alguns conhecidos e fiquei com a mão no ar, esperando que alguém a apertasse.

Minha vida sorriu e me olhou assim de soslaio. Isso queria dizer que ela não estava satisfeita. Argumentei que a coisa iria melhorar. Era só ir ao lugar certo, encontrar as pessoas certas.

Minha vida olhou novamente aquele seu olhar que diz saber que eu era um sonhador, que não adiantava ficar jogando pérolas aos porcos.

Voltei com minha vida e a devolvi ao baú, de onde ela me acena agora. Fecho o baú e vou embora. Quem sabe um dia eu dê mais sorte e ofereça à minha vida um pouco mais de diversão...

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