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sexta-feira, maio 14, 2010

Nos anos 80 era difícil...

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Noite dessas, eu e alguns amigos discutíamos sobre música. De como artistas e bandas estouram em um curto período. Mas o foco da conversa foi a dificuldade para conseguirmos músicas legais (que achávamos legais) nos anos 80. Lembro de ficar gravando canções da FM, de programas segmentados de rock da Equatorial FM (bons tempos). O papo foi tão bom que pedi para o meu amigo Lênio Mont’Alverne escrever o seu depoimento sobre o assunto, leiam:

Nos anos 80 era difícil

                                              Por Lênio Mont’Alverne

Muito tempo atrás, numa galáxia não tão distante, haviam festinhas de garagem. Estes encontros sociais eram, na verdade, rituais celebrados para podermos “chegar” nas meninas. Na era pré- MSN, não se tinham muitas oportunidades, tínhamos que aproveitar as oportunidades, poderia ser a hora de comprar o pão, a hora da igreja ou dançar na quadrilha de São João. Eu devia ter uns 13 anos.

Enfim, estava eu, sentado esperando tocar ”slave to love”, do Brian Ferry, para tomar coragem e chamar a menina para dançar, quando ouvi:

“I'm adaptable And

I like my role

I'm getting better and better

And I have a new goal”

...era algo que eu nunca tinha ouvido antes....guitarras distorcidas...vocal maravilhosamente desafinado...som pesado....refrão contagiante...

“this is not a love song

this is not a love song

this is not a love song

not a love song…”

O que era aquilo? Era Pil (Pil Lydon, ex vocalist da lendária Sex Pistols), a música era “This is not a love song”, johnny “Rotten” Lydon gritava:

“this is not a love song

this is not a love song

this is not a love song

not a love song…”

Aí vinha o riff, então fui ao cara que trocava as fitas (algo surreal para os adolescentes de hoje) e os discos de vinil (na atualidade, objetos “cults”)..

” I'm changing my ways

Where money applies

This is not a love song…

Not a love song”

Perguntei – “o que é isso?”, ele disse: “Sei lá!”

Depois colocou Sigue Sigue Sputnick e diversão seguiu. Ao fim da festa, pedi a fita emprestada. Eu tinha que ter aquela música. O cara deu um monte de desculpas e não emprestou.

Falou: “Passa lá e casa amanhã” (ele morava no Pacoval, para o pessoal de hoje, era como se ele morasse no Boné Azul).

Nessa época, havia um certo senso de propriedade sobre as musicas bacanas, os discos de rock eram raros e quem tinha uma música ou um disco, não emprestava de jeito nenhum. Todos tinham discos de novela, era dessa forma que a música chegava pra gente. Eu tinha o “Number os the Beast”do Iron Maiden e não emprestava nem pra minha mãe, mesmo porque, meus amigos gostavam de Pet Shop Boys e na verdade ninguém pedia, mas se pedissem, não emprestava e ponto final.

No outro dia, peguei minha BMX e minha fita TDK 90 minutos e rumei ao temível Pacoval, uma verdadeira viagem. Ao chegar, o cara do qual eu não lembro o nome, me emprestou a fita com a condição de eu devolver “hoje mesmo”. Ok, disse eu, era a sexta música do lado B. (tinha todas as músicas metodicamente anotadas no papel interior da fita).

Levei a fita ao meu amigo Denis, que era o único que eu conhecia com um som que tinha dois tape decks, uma maravilha tecnológica da época. Meio relutante, o Denis, que quando eu cheguei, ouvia “Nikita”do Elton Jhon, aceitou fazer a cópia. Tinha um espaço no final da minha fita, dava certinho, ainda lembro da sequência final dessa fita, de tanto que eu ouvia. Tinha “I will follow”, do U2, depois vinha “Dancing with myself”do Billy Idol, depois “This is not a love song”, do Pil. Voltei ao pacoval e devolvi a fita realizado, foram incontáveis horas ouvindo essa música.

Lembrei dessa historia numa mesa de bar, enquanto tínhamos uma discussão sociológica, regada a Bohemia, sobre música, bandas legais, tendências e preferências e a usei pra enfatizar meu ponto de vista de que hoje, no mundo globalizado, onde tudo está a um clique de distancia, eu não consigo conceber, pessoas com acesso a todas as informações se privarem de bandas e musicas legais.

A molecada ouve, em suas parafernálias, móveis, ruídos repetitivos, mal cantados, sem letra, sem melodia. Tudo isso me impressiona e, ao mesmo tempo, me entristece. Pois assim como essa musica mudou minha vida, existem por aí milhares de bandas com mais qualidade e originalidade num plug de amplificador, do que em todas as micaretas da Bahia, interiores de Goiás e favelas do Rio.

Musica é a trilha sonora das nossas vidas, como diria alguém muito mais inteligente que eu, então, fico extremamente feliz, que nesse período da minha vida, era isso que tocava:

THIS IS NOT A LOVE SONG - PIL

Not television

Behind the curtain

Out of the cupboard

You take the first train

Into the big world

Are you ready to grab the candle

Not television



Not a love song

This is not a love song

This is not a love song

This is not a love song

Not a love song



4 comentários:

  1. Muita coisa boa pra contar, mesmo com todas as dificuldades...
    Dei gargalhadas aqui com esse texto "duca" !!!
    Muito bom

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  2. Mas sabe o que é legal?
    Que a gente tem a oportunidade de ouvir coisas incríveis como pink floyd sem precisar morrer atrás de um vinil. Acho bacana a facilidade que a gente tem de chegar aonde quiser. Claro que pelo caminho encontramos montes de tranqueiras, mas imagina quantas pessoas não descobriram bandas fodas de antigamente com a internet? Por outro lado, eu sou da época de morrer atrás de um cd ou fita. Era bacana que qdo eu conseguia, ficava moh feliz ouvindo muitas vezes. Eu tinha uma fita, minha preferida, com beatles, metallica, nirvana, peral jam, duran duran, new order e mais algumas. Cara.. até hj qdo eu lembro dela, que tinha uma marquinha na frente, a letra L, me dá uma sensação louca sabe? enfim.. eheheh.
    tudo tem seus prós e contras. =]

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  3. Eu, definitivamente, acho que o esforço que vc faz pra conseguir tal coisa é proporcional ao valor que vc dá pra ela depois de adquirida...eu acho que com a musica não é diferente...quem me conhece sabe que eu sempre fui um caçador de sons, hj nem tanto!! mas eu não custumava apresentar as bandas que eu achava legal pra qualquer um...inclusive, eu queixava até pra alguns amigos..e quando eu finalmente colocava no som e apresentava a musica, muitas vezes eu determinava o momento exato de revelar o nome da banda!! as vezes na hora do refrão, as vezes no início da musica e a maioria das vezes no final, pra fechar com chave de ouro!! eu me arrependo amargamente de um dia ter falado a seguinte frase: "Guga, esse aqui é o RAGE AGAINST THE MACHINE" ele levou o cd e depois emprestou pro bairro do trem todinho...eu ainda lembro dele andando de um lado pro outro na minha casa gritando "MOTHERFUCKKKKEEEERRRR" bem, o que aconteceu?? eu enjoei dessa banda a ponto de comemorar quando eles anunciaram que tinham acabado...voltando ao texto, esses são tempos que só voltam na nossa memória...hj tudo é de "plástico" e "descartável"... a música também segue essa triste tendência... as pessoas querem consumir mais e mais rápido... dessa forma não há arte espontânea, mas sim arte comercial. Alguns poucos sobrevivem... mas de certa forma já "contaminados" pelo modelo de arte que nos é imposto hoje...eu lembro das fitas que eu tinha, geralmente eu deixava as mais lentas e romanticas no lado b, com relação ao som com dois tapes decks, realmente foi um grande avanço da tecnologia, depois disso, veio o o tape deck auto reverse..vc nem precisava torcar a fita de lado...rsrs..ótimo texto do lênio e parabens pelos 5 meses godão!!!

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  4. assim como a globalização traz a oportunidade de conhecer novas bandas, essa traz também a massificação fortemente impulsionada pela industria cultural. essa industria mascara a originalidade e se atém somente no consumismo. dai a razão de se ter NX zero tocando nas rádios.essas bandas sempre vão existir e isso é uma pena, cabe aos jovens saberem usar essa ferramenta à sua frente. usem o computador pra conhecer coisas novas e de qualidade, usem essa ferramenta maravilhosa q é a internet! discutam, troquem opiniões, só assim é possivel construir algo de qualidade..

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