Escrito por Xico Sá.
Sem nenhuma pretensão de atualizar a brochura “Tratado Geral dos Chatos”, que o escriba Guilherme Figueiredo pôs no mundo há meio século, cá estamos com uma nova lista destas criaturas capazes de nos subtrair a paciência e nos deixar tão inquietos quanto as vítimas do Pediculus púbis, como são conhecidos cientificamente os insetos homônimos que atacam as partes mais baixas e indefesas de um cristão de fé.
Bons e inocentes tempos aqueles em que os chatos se resumiam aos tipos agrícolas, como o chato-pra-chuchu, ou às criaturas crentes na meteorologia, como os prevenidos chatos-de-galocha. Haviam ainda os menos ofensivos, como os da espécime aforismática - sempre com uma filosofia de pára-choque na ponta da língua para importunar a vida alheia.
Enfim, só nos resta ser mais chatos ainda, o que tentamos com engenho e arte, e fazer + uma lista destes maçantes modernos:
Macunaemo – tem a preguiça do Macunaíma e a choradeira de um roqueiro Emo.
Stand-up chato – seja profissional da comédia, amador ou simplesmente colega de firma, ele está sempre fazendo uma graça em pé. Melhor esperar sentado que um dia o piadista sem graça te dê sossego.
Mega-super-ultra-hype – o mais veloz do Oeste, gente atualizadíssima do mundinho. Sabe a nova gíria dos modernos de Londres e curte no Facebook a última faixa do DJ paquistanês pós-electro-cool-de-cu-é-rola que será a sensação na próxima semana em NY.
Mario de Andrades digitais – gente que escreve e-mails enormes, como as famosas cartas do gênio modernista. Esse Mario matou muitos pobres e desnutridos carteiros de tanto fazê-los gastar sola de sapato, pois se correspondia com o país inteiro. Embora desse a impressão a cada interlocutor que aquela troca de cartas embutia uma linda e única afinidade eletiva. Todos os anos vem à tona um novo carregamento de missivas do gênero. Escreveu para escritores, tocadores de coco do Nordeste, índios, mitos amazônicos, gorilas...
Fêmea sitcom – nem tem mais graça, de tão datada, mas trata-se do tipo metropolitano que acha que a vida é um seriado americano, um decadente Sex and City sem fim, século seculorum. Adora vernissages.
Chatos de época - rabugentos, inconsoláveis, sempre a resmungar pelo borogodó que se foi. “Bom era no meu tempo”. Saco!
Garçonete-cabeça – Aqui encarno um rápido chato de época para lembrar o tempo em que garçom vestia preto e branco, gravatinha borboleta, e perguntava “o de sempre?”, O uísque era mais chorado que enterro de marido rico, ele sabia o resultado do futebol e ainda nos servia de ombro para uma bela dor de corno. Linda, gostosa e descolex, a garçonete-cabeça é uma graça, mas pode passar a noite a discorrer sobre o neo-cinema paquistanês e a peça do Antunes, em vez de cumprir à risca, no salão dos bares, um dos ofícios mais importantes do mundo.
Vamos aumentar a lista, deixando ai nos comentários os novíssimos tipos de cri-cris e malas. E que esta segunda-sem-lei lhe seja leve. P.S.-Não,este post não é uma homenagem ao Rogério Ceni,que já foi eleito pelos colegas de profissa, como o boleiro mais chato do planeta. Hoje o goalkeeper tricolor só merece festa.
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