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quinta-feira, dezembro 19, 2013

Anacrônica crônica (Ronaldo Rodrigues)

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Ronaldo Rodrigues

A vida é uma merda. Algumas pessoas, como tu, devem pensar isso, de vez em quando. Ainda mais neste clima de fim de ano, de promessa de fim do mundo.

Concordo contigo, amigo, amiga, camaradas. A vida é uma merda. Mas imagina-te sofrendo um acidente daqueles bem escrotos, de moto ou carro. Ou uma bala perdida achada na tua coluna vertebral. Ficarás tetraplégico e fodeu-se. Tu vais pensar então:

- Porra! Não é que a vida nem estava tão ruim assim?

Tudo isso pra dizer que tudo isso é um grande mistério. Mas isso o quê? Do que estávamos falando mesmo? Coisa terrível é essa coisa que um dia se chamou memória. Ainda mais agora que os insetos do inverno estão chegando. O inverno, propriamente dito, nem sinal de chegar. Enquanto isso, vou fritando meu cérebro a 36 graus à sombra.

Dentro do meu aquário de segurança máxima vou apascentando minhas ovelhas negras, alimentando minha fome de justiça e saciando minha sede de vingança. Fome de justiça e sede de vingança. Eis um bom tema. Fica registrado, portanto, para ser desenvolvido em futuras crônicas.

Procuro um canal de TV, um canal de esgoto, um canal arterial. Sei lá o que a madrugada comporta. É preciso estar prevenido: camisinhas, cigarros, cerveja. Ou algo assim. Drogas ilícitas no cardápio.

Preciso também mudar de figurino. Não fica nada bem andar assim com esses trapos, a afirmar aos jornais especializados que essa é a minha moda. Que a minha moda não segue moda. A minha moda é assim. A minha moda é foda.

Bobagens gratuitas na tela. Manchetes espirrando sangue. Quando foi que tudo isso começou? No dia em que o primeiro ser deu o primeiro suspiro? Pode ser. Aliás, tudo pode ser. Inclusive usar a palavra inclusive quando não há muito o que dizer. Pra ganhar tempo. Parece aquele tipo de gente que está falando muito bem e de repente enfia um a nível de... Que merda! 

Por isso vou escrevendo. Tem gente que lê essas coisas que escrevo, sabias? Tem gente pra tudo neste mundo. Gente capaz de ler um poema, gente capaz de escrever um poema. E gente capaz de entrar numa escola e sair atirando a esmo. Loucura esse mundo, louca essa gente.

Ah, sim! Lembrei do que estava falando no início deste texto. A vida é uma merda, mas nem está tão mal assim. Merda serve pra adubar o terreno. Quem sabe outras flores brotarão?

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