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quinta-feira, outubro 31, 2013

Futebol

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

Fui um menino tímido, retraído. Por isso era maltratado pelos outros garotos. Não. Não era por isso. Era que aliado a isso eu era muito franzino. E naquela fase da vida quem não era forte ou não soubesse brigar tava lascado. 

Eu, por exemplo. Pra salvar o prestígio de alguém assim só sabendo jogar futebol. Os garotos que se destacavam no futebol ganhavam o respeito dos outros garotos. O cara se tornava popular, mesmo sendo franzino e tímido.

Agora pergunta se eu sabia jogar futebol! Sou aquilo que os cronistas esportivos e comentaristas amadores chamavam (e chamam ainda hoje!) de perna-de-pau. E isso era o mínimo que se chamava pra alguém desprovido de talento pra bola. A mãe do perna-de-pau sofria: “Passa a bola direito, filho da puta!”. E por aí ia. 

Portanto, se quiseres ganhar prestígio, precisas ter algum outro talento que possa ser reconhecido pelos outros garotos. Desenhar pode te salvar. Nem precisa saber desenhar bem. É que a maioria não sabe desenhar nada e admira quem sabe segurar um pouquinho o lápis e movê-lo com a mínima desenvoltura. 

Outro atributo que pode te angariar uns pontos a favor é ter irmã gostosa. Eles te denominam logo de cunhado e recebes uma aura de proteção. “Dá lembrança lá pra mana, cunhado!”. Aí eles não te darão a porrada que te seria reservada caso fosses filho único ou de uma família só de irmãos. Alvíssaras! 

Eu sabia desenhar e tinha irmã gostosa. Devia ser pra compensar minha falta de habilidade com a pelota. Os caras queriam fazer bonito para as meninas bonitas e livravam a cara do irmão magrela. Eu peguei carona nesse mito e só apanhei quando caí na besteira de jogar em lugares em que ninguém conhecia minhas irmãs. 

Nesses momentos, o desenho nem era cogitado. “Esse filho-da-puta perdeu um gol feito! Tira essa pereba do campo antes que eu quebre a cara desse escroto!”. O moleque me olhava com a maior cara de zagueiro argentino em final de copa contra o Brasil, doido pra me dar um pontapé inicial. Quando isso acontecia, eu saía de campo de cabeça erguida. Mentira! Saía era cabisbaixo, tremendo de medo, já correndo.

Em casa eu me vingava usando as minhas habilidades. Convencia minhas irmãs a não dar bola pra garoto encrenqueiro e desenhava histórias em quadrinhos em que eu era o grande astro do futebol. E namorava as irmãs de todos.

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