Conto de Ronaldo Rodrigues
O Boxeador Implacável, detentor de vários títulos, estava na mesa ao lado, arrotando arrogância, destemor, valentia e arroto mesmo. Era conhecido nos meios pugilísticos e nos bares de beira de cais como Golias. Não o comediante brasileiro, mas o guerreiro gigante filisteu.


Ouvi a explicação e pedi outras. Por que ele precisava tomar cuidado com a polícia? Por que ele não queria levantar suspeita? Qual era o motivo de tudo isso?

– Não tem motivo nenhum, cara! Tá pensando o quê? Que eu sou ladrão, contrabandista, estelionatário? Que fico por aí tocaiando velhinhas pra roubar a aposentadoria delas?
Pedi desculpas, vendo que ele tinha ficado realmente ofendido com as perguntas. Achei exagerada a reação do amigo do Carneirinho, que o acalmou e explicou de novo:
– Sabe como é, né? Ele não tem motivo nenhum pra temer a polícia, mas a polícia não precisa de motivo pra botar alguém em cana. Ela arranja um ou um milhão de motivos, certo?
Concordei, achando tudo meio paranoico. Enquanto isso, o Boxeador Implacável soltou mais um arroto, seguido de um desaforo ao público. Só que desta vez ele não ficou sem resposta. Aproveitando o resto da ira despertada por mim, o amigo do Carneirinho foi até a mesa do campeão e aplicou uma guarda-chuvada no montanhoso cocuruto, fazendo o gigante beijar a lona.
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O amigo do Carneirinho foi carregado em triunfo. Os bêbados do bar festejaram a vitória noite adentro, com grande estardalhaço. Até chegar a polícia e levar todo mundo em cana, com exceção do amigo do Carneirinho, que saiu assoviando, tranquilo, com seu guarda-chuva debaixo do braço.
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