Paulo lopes Paulinho Lopes, piloto dos bons, já guiou políticos e jornalistas por sobre a imensidão da selva amazônica, sob o azul do céu amapaense. É daqueles profissionais da aviação que também já passaram por muitas situações de perigo embaixo de trovoadas e turbulências, na calma, levando passageiros e aeronaves a seu destino.
Sempre que posso encontro com o dito cujo no bar do Abreu. Conversar com ele é desopilar o fígado, pois o seu repertório de piadas e citações e tão grande e renovado que ninguém agüenta. Toda vez tem alguma coisa nova para contar, isso quando ele não inventa suas próprias anedotas tirando sarro dos freqüentadores que ficam do lado de dentro do balcão do bar. O baterista “Bolachinha” é o seu foco predileto, juntamente com a sua famosa acompanhante “batgirl”. Expressões como “Tá tudo escorrendo bem?”, “Teu borga” já fazem parte do “dialeto” ali falado, no qual as frases fesceninas ou mesmo consideradas chulas fazem parte de um repertório que até dicionarista vai lá beber na fonte.
A assistência ri das frases mais eloqüentes e das mais óbvias. Ele conta, por exemplo, que um migrante chamado Ivan Macaco convidou o Mapíngua para ir trabalhar em Caiena: “- Bora pra Caiena, rapaz, que lá o dinheiro tá correndo solto.” E o Mapíngua respondeu: “ – Tu é doido, é? Se aqui em Macapá que ele tá parado eu não consigo pegar ele, imagina lá em Caiena...” O repertório do homem tão grande que a gente se esquece de muitas histórias.
Ele eventualmente filosofa ao dizer assim: “Dá a razão para quem não tem, porque quem tem não precisa”. É uma forma de “equilibrar a balança”, diz o mestre. Por outro lado traz novidades do seu amigo, o professor João Maria Barros, que conceitua cultura como “tudo aquilo que você consegue lembrar depois de esquecer tudo aquilo que aprendeu”. Paulinho faz releituras e intertextualidades de expressões muito usadas por estas plagas como “Meu nome não é osso para andar em boca de cachorro”, e as remete para “nem milho para andar em bico de galinha” ou “nem ração para andar em boca de porco”
Mas é nos apelidos puxados pela sua memória que a assistência ri e informa outros bem engraçados. Para todos há uma história singular como os magrinhos que ficaram marcados pela alcunha de “Carapanã de Cueca”, “Filé de Gia”, “Filé de Borboleta”. Os mais feios são apelidados de “Sapo Virado do Avesso” ,“Caranguejo de Ganho”, porque são baixinhos e magros, “Cabelo de Boneca Velha”, “Bibelô de Funerária”. “Abelha”, “Pavulagem” e “Rolha de Poço Artesiano”, são interessantes, assim como os impagáveis “Diabo Assado” e “Tamaquaré no Choco”.
Logicamente que sob uma análise mais acurada esses apelidos denotam preconceito, e até discriminação e racismo. Mas como no ambiente de bar o que é sociológico não se mensura por categoria social ou freqüência estatística nessas horas, e sim pela alegria contagiosa que uma boa piada tem, os clientes riem e se congratulam aumentando o rol do anedotário que os homens criam para viverem mais alegres.
No bar o tempo passa rápido quando um bom contador de histórias como o Paulinho Piloto energiza o ambiente. E ali tem contadores como o Bira e o Aníbal Sérgio que entram na roda e nos tornam também possuidores desse élan que move a vida amapaense. Por isso mesmo o Paulinho conta até fábulas para que possamos meditar criticamente sobre a política local, como esta: “Dois compadres conversavam lá no rio Maruanum. O primeiro pergunta meio espantado. – Mas como o jabuti tá ali, compadre, se jabuti não sobe em árvore? O segundo responde. - Das duas uma: ou ele foi pra lá com a força da maré ou colocaram ele lá.”
( Do livro Adoradores do Sol – Novo Textuário do Meio do Mundo. Scortecci, São Paulo, 2010).
Tinha esquecido dessa, Elton. O Paulinho continua voando e trazendo sempre suas saborosas histórias que ainda conta pelos bares. Abs.
ResponderExcluirTinha esquecido dessa, Elton. O Paulinho continua voando e trazendo sempre suas saborosas histórias que ainda conta pelos bares. Abs.
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