E ai meus caros, chegamos ao numero “10” da nossa estrada de “tijolos amarelos”, e não poderia ser algo menos especial do que esse belo registro musical. Não é um disco comum, trata-se, acredito eu, do primeiro grande fenômeno do rock brazuca. Sim, amigos. Falaremos hoje de “Nós vamos invadir sua praia”, quem já teve a honra de ouvir sabe do que estou falando.
Corria o ano de 1985, um ano mágico da década perdida. Digo isso, pois a ditadura militar que calou uma população inteira começava a sair de cena, e junto com ela a censura que mutilava pensamentos e calava a criatividade dos nossos artistas. MPB estagnada, naquele engajamento politico que não teria mais sentindo sem ter o inimigo para bater, os velhos militares ainda assustavam, mas eram apenas cópias dos monstros do passado (ainda recente) da tirania, ou seja, todo aquele “fervor” politico não faria mais sentido nos anos que estariam por vir, já era “85”.
Nesse cenário meio “Cachorro sem dono”, vem de São Paulo uma turma aparentemente só queria tocar e se divertir, mas que nas entrelinhas tinham muito a dizer, eles eram o Ultraje a Rigor.
Na batalha desde o começo da década de 80, com a formação de Roger, Edgard Scandurra (que priorizou o “!Ira”, e foi substituído por Carlinhos Branco), o baixista Mauricio DeFedi e o excelente Leospa na bateria, o Ultraje largou as cores cinzentas de “Sampa” e alçaram voo maior, os caras queriam literalmente invadir a praia.
Esse álbum foi um verdadeiro estrondo, podem ver pela quantidade de músicas que tocaram no rádio, e nas pistas de dança. Todos adoraram aquela novidade, já que foi o primeiro disco de uma banda de rock, como posso dizer “Escrachada”, pelo conteúdo de suas letras, que conseguiu destaque na mídia, por isso se tornou um tijolo presente e importante no muro da revolução musical brasileira. O disco conseguiu ouro, platina e platina duplo.
Dissecando a Bolacha vemos a faixa titulo “Nos vamos invadir sua praia”, que é uma ode a experiência paulista de invadir o Rio de janeiro (berço do Rock na época) e literalmente mudar as estruturas do que estava sendo feito, “Rebelde sem Causa”, uma homenagem aquela figura que conhecemos, que tem tudo na mão e se acha no direito de revolta, vai para. “Mim quer Tocar” critica ao sistema quase amador que as bandas passavam no Brasil, tudo que era bom era importado (instrumentos, equipamentos de som) os nacionais pareciam mais coisa de índio mesmo, chegamos em “Zoraide”, a mina grudenta que quer casar.
“Ciúme”, sentimento comum para muitos, que permeiam muitos relacionamentos vida há dentro, “Inútil”, histórica e emblemática, tornou-se hino da campanha das “Diretas Já”, quando o então deputado Ulysses Guimarães utilizou seus versos (“A gente não sabemos escolher presidente/ A gente não sabemos tomar conta da gente/ A gente não sabemos nem escovar os dentes...”) para abrir uma seção no congresso nacional, “Marylou”, galinhas, vacas, muitas interpretações escolha a sua, essa em particular saiu na versão carnaval, oque prova que realmente os caras não estavam de brincadeira.
“Jesse Go”, fala da história de um relacionamento, muito legal mas infelizmente a menos compreendida do disco, “Eu me Amo”, hino mor ao egocentrismo, alto estima transpira nos versos dessa musica, ninguém consegue viver sem uma dose de amor próprio, “Se você sabia”, a velha história da namorada que engravida, uma celeuma pela qual passei e acredito eu muitos de vocês, fecha com “Independente Futebol Clube”, mais uma que fala de relacionamento, mas agora alguém suplicando por liberdade.
Não existe uma pessoa que conheço, que ainda não tenha se pego cantando pelo menos uma dessas faixas, esse é um relato histórico do rock nacional, um disco com todos esses elementos distribuídos não tinha como dar errado, um verdadeiro “caminhão de hits” que conquistou do netinho ao vovô. Um clássico imediato.
A superexposição acabou surpreendendo e também porque não prejudicando os caras, ficaram com a aquela ingrata marca de “engraçadinhos”, ou seja, os 20 anos de ditadura militar tinham realmente tapado à cabeça da população.
Ouvindo o disco hoje em dia, quase 30 anos depois, ele ainda é atual, pois ainda existe um amadorismo na música. Para muitos, não sabemos ainda escolher presidente, ainda existem playboys sem cérebro andando por ai, o amor próprio anda em voga, sem contar que nada melhor que levar a farofinha pra praia.
No mais, jovem você que esta completando 18 anos, aprenda esse é um dos melhores discos de estreia de todos os tempos e assim ele foi feito. Uma verve satírica, ou seja, o bom humor a serviço da coisa séria.
Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor “E olha todo mundo é adulto nessa torre”.
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