Quarta-feira da Murta do Divino Espírito Santo, 28 de maio, o Grupo Raimundo Ladislau cumpre mais uma etapa do Ciclo do Marabaixo deste ano, com o ritual que inicia às 16h e só termina no outro dia, Quinta-Feira da Hora, às 7h, quando o mastro é levantado. É o início dos festejos para o Divino Espírito Santo, que tem ainda novenas e bailes que se entendem o dia 30. Os festeiros Raimundo Ramos e Iury Soledade, neto e tataraneto do Mestre Julião Ramos, prometem as treze horas de festa com ordem e segurança.
O Ciclo do Marabaixo é realizado em Macapá nos bairros Laguinho e Santa Rita, antiga Favela, e iniciou durante a Semana Santa. Os dois são redutos de famílias negras, que no início do povoamento de Macapá, foram transferidos do Centro para estes bairros. A tradição é a mesma do século passado, mas cada um desenvolveu algumas particularidades. Duas famílias de cada bairro fazem a festa, no Laguinho em honra à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo, e na Favela somente para a Santíssima.
O Divino Espírito Santo reúne inúmeros devotos, que professam a fé cantando, dançando, fazendo e pagando promessa. Duas famílias descendentes do precursor do marabaixo, Julião Ramos, são os responsáveis pelos festejos no Laguinho, a da de Benedita Ramos e a do Mestre Pavão. Dona Benedita, conhecida como Tia Biló, única filha viva de Julião, ainda participa da programação, hoje comandada pelos filhos, netos e bisnetos, que formaram a Associação Raimundo Ladislau.
O Mastro que será levantado foi retirado no último sábado, no Curiaú, e domingo levado para a casa da Tia Biló. Como é tradição, na Quarta-feira da Murta, os participantes saem nas ruas do Laguinho carregando os ramos, que têm uma simbologia religiosa, por remeterem ao galho descrito na Bíblia, que anunciou o final do dilúvio, e também mística, por acreditarem que espanta o mau-olhado. Os ramos são guardados junto aos dois mastros do Divino e, após uma noite inteira de rodadas de marabaixo, fogos, entre goles de gengibirra e caldo, começam a ser arrumados nos mastros às 6h. Uma hora depois eles são levantados.
A programação no Laguinho continua nos próximos dias com ladainhas, missa, banquetes e bailes, até 19 de junho, dia de Corpus Christi, quando encerra mais um Ciclo do Marabaixo. Iury Soledade diz estar satisfeito com a participação da população e devotos que preservam a cultura e demostram sua fé durante os festejos. “Estamos preparando com muito carinho e cuidado a programação, para que todos sintam-se bem e professem sua devoção. Isso ajuda a manter viva nossa cultura do marabaixo”, disse o festeiro.
Texto: Mariléria Maciel
Fotos: Márcia do Carmo
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