Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que estamos de volta com nossa inóspita viagem pelos discos que permeiam minha vida e com certeza a vida de muitos de vocês. Do fundo de minha alma tenho a obrigação de dizer, sim amiguinhos existe vida inteligente sem internet.
Nossa viagem leva agora a década de 90, que nos proporcionou o “Grunge”, o Collor e a ressurreição do Fusca (não esse de playboy, mas aquele que a sua tia tinha), deixando meu saudosismo de lado vamos ao que interessa.
O disco em questão trata-se de um verdadeiro divisor de águas para mim, antes um apreciador radical do punk, com uma queda leve pelo metal e apreciador das melodias perturbadoras de Seattle (já falei sobre isso), como todo moleque de 15 anos: “Eu já sabia de tudo”. Até ser apresentado a este verdadeiro míssil sonoro, chamado Copper Blue.
Com o fechamento do Husker Du (grande banda) o vocalista e principal letrista, Bob Mould sai de cena e volta com dois trabalhos cheios de violoncelos e ressentimentos, os excelentes e sombrios Workbook (1989) e Black Sheets of Rain (1991). Tendo exorcizado seus fantasmas e deixado a frescura de lado decide formar junto do baixista Dave Barbe e do baterista Malcoln Travis o Sugar.
Unindo a sujeira do Punk Rock (lembranças dos tempos de Husker), com melodias muito mais acessíveis eles gravam “Cooper Blue” que conseguiu alavancar certo sucesso no mercado americano e foi considerado o disco do ano pela “New Musical Express” na terra da Rainha.
O espaço cedido pela verve do punk nesse disco e ocupado com maestria por uma verdadeira explosão de guitarras ardidas, bem situadas e comprimidas, do começo ao fim. Ou seja, nada deve ao que estava sendo feito na época.
O álbum inicia com azedíssima “The Act We Act”, que nos faz cair na lembrança do Husker Du, mas ao contrario ela é animada com uma boa base instrumental, vai para “A Good Idea”, que faz parecer mais Pixies do que nunca, faz todos viajarem em “Changes” que realmente é um dos destaques da bolacha, tem também a sóbria “Helpless”, a homenagem ao maestro George Martin em “Hoover Dan”, o tributo apaixonado aos quatro caras de Liverpool em “If I Can Change Your Mind”, ou seja a ternura chega e toma conta. Não se pode deixar de lado “The Slin”, “Fortune Teller”, “Slick” e a memorável “Man On The Moon”, realmente um discaço.
O saudoso Zeca Jagger costumava dizer que o Rock é simples, que quando se complica o Rock ele fica chato, “Cooper Blue” vai pra longe disso, as musicas são emotivas, feitas para serem cantadas, estudadas e vividas como o bom Rock and Roll deve ser, sem firulas a temperatura do disco é a mesma do começo ao fim. Musicas incríveis, resultado de letras fantásticas e melodias fenomenais. Não existe nada de mal nessa bolacha. Um verdadeiro clássico.
Acredito em minha opinião que este foi um dos momentos mais felizes da música no século XX. De tão atual, hoje mais de vinte anos depois de seu lançamento ouvi-lo ainda é uma boa ideia. Se você jovem ainda não teve essa experiência, corra ainda há tempo. É realmente eu ainda lembro oque ouvia em 1994.
Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor “e não, NÃO estava em tratamento”.
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