A Legião Urbana, extinta banda do rock nacional, marcou a minha geração. Hoje (27), Renato Russo, líder do grupo, faria 54 anos. Apesar das músicas não surtirem tanto efeito como quando tínhamos 15, algumas ainda mexem com quase quarentões e quem tem pouco mais que isso. Em homenagem ao cantor e compositor, republico o texto do amigo Silvio Neto.
Os bons morrem antes?
Por Silvio Neto
27 de Março de 1960. Há exatos 54 anos nascia, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Renato Mantredini Júnior, mais conhecido como Renato Russo, um dos maiores poetas do rock brasileiro.
Como ele mesmo diria em uma de suas canções imortalizadas com a Legião Urbana, “é tão estranho, os bons morrem antes…”. É talvez ele estivesse certo, mas aos 36 anos, Renato Russo não morreu antes. Pelo contrário, ele tornou-se verdadeiramente imortal. O poeta de toda uma “Geração Coca-Cola” que criou a trilha sonora da vida de todos que, como eu, viveram intensamente os anos 80 e início dos 90.
Poeta pós-punk, intelectual, bissexual assumido desde os 18 anos de idade, ele foi uma espécie de Jim Morrison brasileiro, não tanto pela sua beleza física, mas pela consistência de suas letras que poderiam muito bem ter sido publicadas em livro sem a necessidade de ser musicadas.
Mas a musicalidade de sua obra também era muito forte, porque era de uma simplicidade crua, oriunda do punk – o que fazia com que os jovens se identificassem de imediato, como jingles de anúncios comerciais.
Suas letras contavam histórias. Muitas delas com personagens inesquecíveis como “o tal João do Santo Cristo”, ou aquele casal ultra-moderno “Eduardo e Mônica”, entre tantos outros.
Sua poesia falava de amor e dor (as duas faces de uma mesma moeda). E mesmo quando desabafava suas dores e impaciência com a doença que o devorava lentamente (a AIDS), falava de um jeito tão doce que mais parecia uma declaração de amor à própria vida.
Hoje, se tivesse completado seus 50 anos, talvez ele estivesse parado, isolado em sua eterna contemplação do mundo, ao invés de fazer como vários de seus contemporâneos que ainda insistem em reascender os velhos sucessos caducos dos longínquos anos 80. Renato não vivia de sucessos passados. Ele mesmo falou no “Acústico MTV” que já não agüentava mais aqueles fãs chatos pedindo: “Toca ‘Ainda é Cedo’!”. Talvez, onde quer que ele esteja, deva estar satisfeito com seu legado.
Morreu ainda no auge. Morreu como morrem as verdadeiras estrelas, brilhando. E como as verdadeiras estrelas, manterá seu brilho ainda por muitos milhares de anos…
Parabéns Renato!
Meu comentário: Renato partiu numa sexta-feira de outubro de 1996. Dia 11, para ser preciso (eu tava numa ressaca daquelas). Ele foi genial. Um melancólico poeta românico, quase piegas, mas visceral. Era capaz de compor canções doces, musicar a história cinematográfica de do tal João do Santo Cristo, cantada na poesia pós-punk de cordel (159 versos e quase 10 minutos) intitulada Faroeste Caboclo ou melhorar Camões (desculpem a blasfêmia lírica), como em Monte Castelo.
Por tudo isso e muito mais, hoje homenageio Renato Russo, que se eternizou pela sua música, poesia e atitude. Urbana Legio Omnia Vincit !
Elton Tavares
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