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domingo, setembro 16, 2012

Conto de hoje: Ruídos (Bianca Andrade)

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                                                       Por Bianca Andrade


Eles buscavam a mesma sintonia, mas houve ruídos na comunicação. Um interpretou de uma maneira o dito, enquanto o outro recepcionou de outra o expressado, e a escultura construída se desfez. Dos cacos, o caos barroco se fez.

Ironia do destino? Deus? Diabo?

Ah! Ruídos... Sejam mal-vindos!

Um chora amargor por ter gostado, o outro de ali um dia estado. Mesmo sabendo que no fundo queriam voltar, negavam. Cada um dizia pelo silêncio: bola pra mim! Orgulhosamente, como todo fim.

Nenhum dos dois estava pronto para ir em frente, bebiam doses duplas de puro lamento. Antes que o primeiro seguisse, o segundo atropelou seu próprio sentir, correu na frente... Esqueceu-se que havia prisões, correntes indissolúveis até então. As fraturas eram expostas e bruscamente sangravam. A emoção ludibriou a dor, carteadas pelo vilão, sempre o culpado coração!

-Quando terá sua absolvição?

Se abertas estivessem as janelas, alimentando seus jardins, teriam visto o sol de um diálogo sorrir para esclarecer as más interpretações, aquecendo todo frio daquele inverno. Mas a chuva prevaleceu, transformou gotas em tempestades em copo d’água.

E na estrada interditada pela erosão, os cones cuidadosamente gritavam, era o momento de todas as horas pararem para o ajuste dos ponteiros... Mas naquela ocasião, não se imaginou que o sinal verde fosse abrir e nenhum quis captar o subliminar quando o relógio disparou o alarme. Subitamente a bola de neve desmoronou.

O primeiro, por ser míope, fora o que mais fingia não se importar, não quis enxergar o que havia embaçado com o gelo, deixando o que o rodeava com o ar de tanto faz, lamentável ignorância. Com sua pressa, o segundo ultrapassou o sinal amarelo, sem esperar o selo do vermelho. Os dois estavam embriagados pela tal razão.

Erguido do situacional descaso e superego, o primeiro viu com lupa o segundo manobrar contramão para a pista que se encontrava o terceiro. Chorou. Perguntou o que fizera de errado, mas não quis arriscar a reta direção.

O terceiro gargalhava. Envolto aos seus falsos encantos, trapaceava... Opa! Mais um ponto na carteira de sedução para quem agia como aprendiz. Tudo se somava, assim como facilmente se descartava.

O segundo quis se iludir, ligou a luz alta e acelerou... Já era tarde, estava escuro no túnel dos jogos. Sem temer, resolveu apostar mais fichas na pista de azar e... Game over!

Por essa comunicação corroída, menosprezaram os cortes que estavam em carne viva, sem curativos, que borravam a delicada tatuagem de suas vidas... E um paradoxo não cicatrizado leva qualquer amador para muitas estradas, sem resgates. E seus destinos se perderam na decadência das convicções equivocadas e nos buracos do auto-abismo.

E nessa história, só os donos de bares foram felizes. Até hoje, entre tantos acidentes e choques, eles sorriam... Queimando todo o estoque!

4 comentários:

  1. Bia querida, parece que te pedi para escrever isso. Mais uma coincidência, igual ao dia que escolhi aquela imagem para seu poema, descreveste tudo. Bjo do gordo!

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  2. Belíssimo Bia! A moça que tem o dom das palavras e que parece ler o coração das pessoas. Cada linha é a expressão clara do que o amor nos causa.

    As páginas vão se virando, mas as cicatrizas insistem em sangrar e conseqüentemente sujam outras páginas. Que bom seria se a vida fosse mais fácil e menos dolorosa.

    Coincidencias: Depois de uma noite em claro, decidi que era hora de voltar ao médico, aproveitei que ia levar meu filho no consultório ao lado e assim o fiz. Sol quente, duas da tarde, a cidade fervendo junto com meus pensamentos. Ao entrar na sala fria, conversei assuntos de rotina e claro levei aquele puxão de orelha porque estava cinco meses sem aparecer.

    Depois de exames básicos que acabaram aumentando ainda mais minha dor de cabeça, aquele homem que sempre foi tão frio e conversava comigo sempre o essencial, me disse algo que faz um sentido danado, mas que muitas vezes o egoísmo, os achismos e orgulho não deixam a gente enxergar:

    Lili não existe o dia de amanhã, pense nisso! Viva cada segundo da forma mais intensa, ame cada minuto e fique perto daqueles que você realmente ama. A velocidade e a fúria estão indo de encontro a você, então regue com o adubo que será essencial para você acordar cada dia: os bons sentimentos!

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  3. Em um mundo que a cada dia se torna mais raro se ter bons sentimentos, sorte daquele que alimenta intensamente os seus. Tudo é um aprendizado... Basta querer.
    Às vezes, alguns textos caem como luvas para determinados momentos... Só lamento o teor deste não ser o que eu gostaria que tivesse caído para ambos, pelo observado aqui.
    Fiquem bem, meus queridões!

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