Hoje (18), é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial( movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil). Mas há que pergunte:
“Antimanicomial? Mas o Amapá não tem história de manicômios!”
Em certa medida isto é fato, mas não é a verdade.
A verdade é que nós, militantes do movimento da luta antimanicomial, que começou na década de 1980 no Brasil, reivindicamos a substituição gradativa dos serviços hospitalares de longa e eterna duração para serviços alternativos e outros dispositivos comunitários, baseados na crença de que a saúde está entre nós, e não longe de nós, isolada em uma instituição de muros altos e intransponíveis.
Bem, a verdade é que este termo ANTIMANICOMIAL, que meus alunos já aprenderam a falar bem rapidinho (rs), não se refere somente a desconstrução do manicômio-instituição, que havia em algumas capitais do país e que se especializaram em serem depósitos de seres humanos (sim, os loucos são seres humanos), se refere principalmente ao manicômio dentro de nós, construído por nossas crenças, preconceitos, representações sociais, inscritas na ideologia da competição, da relação eu-coisa.
Já disse uma vez e repito, entrar neste movimento mudou minha vida. Hoje sou uma pessoa um pouquinho melhor, ou pelo menos tento ser, por conta de ter compreendido o seu proposito até hoje, a cada dia, tento tirar mais um tijolo de preconceito, de julgamento-condenação com relação ao mundo a minha volta.
Mas voltando a minha explicação, o dia 18 de maio é uma data em que comemoramos uma luta incansável contra tudo o que se intitula saber absoluto, toda “verdade” que nos baseamos para julgar as pessoas e as coisas conforme nossas referencias. Não desejo que joguemos fora tudo em que acreditamos, mas que ao menos façamos uma revisão delas de vez em quando, pois como acreditava Paulo Freire, para sair da consciência ingênua é preciso fazer a critica:
[...] profundidade na interpretação dos problemas. Pela substituição de explicações mágicas por princípios causais. Por procurar testar os “achados” e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos na análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações. Por negar a transferência da responsabilidade. Pela recusa a posições quietistas. Por segurança na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade ao novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos enquanto válidos. Por se inclinar sempre a argüições. (FREIRE, 1980)
Ser antimanicomial é respeitar as diferenças CQC! É compreender que nem tudo precisa ser definitivo, nem minha opinião. Olhar para as pessoas e não para os rótulos que colocamos nelas ou das crenças que nos subsidiam o julgamento e a condenação indelével. É ter a certeza que pessoas erram, se não errassem não seriam pessoas! Saber que precisamos nos ENCONTRAR MAIS, e não simplesmente corresponder às expectativas uns dos outros. E por ai vai...
Daí, eu estou criando o MANICOMIOMETRO, que é uma espécie de termômetro que acusa apitando toda vez que fazemos exatamente a contrario dessas coisas acima descritas.
Eu desejo que cada um de nós desenvolvamos o nosso MANICOMIOMETRO, que ele apite toda vez que nos esqueçamos que somos seres humanizáveis, como afirma Ciampa, e por isso podem haver processos e práticas que nos humanizam ou nos desumanizam!
Saudações ANTIMANICOMIAS!
Intervenção Loucos por cidadania, dia 18.05 pela parte da manhã na rua Candido Mendes! Passem lá!
Janisse Carvalho - Educadora
No Response to "O Manicomiometro!"
Postar um comentário