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quarta-feira, maio 23, 2012

Se eu fosse mais disciplinado, poderia ter sido músico

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por CLINT EASTWOOD

Primeiro, eu era mais alto do que a maioria das crianças na escola. Depois, estávamos sempre nos mudando. Redding. Sacramento. Pacific Palisades. De volta a Redding. De volta a Sacramento. Niles. Oakland. Eu era sempre o cara novo na turma. Os valentões pensavam: “Lá vem o altão desengonçado. Vamos testá-lo.” Eu era tímido, mas passei grande parte da infância socando os valentões.

Meu pai tinha um casal de filhos no início da Grande Depressão. Não havia emprego. Não havia previdência social. Mal se conseguia sobreviver. Naquele tempo as pessoas eram mais duronas.

Vivemos numa geração meio mariquinha, todo mundo diz: “Vamos lidar psicologicamente com isso?” Naquela época, você simplesmente sentava o pau e resolvia na porrada. Mesmo que o cara fosse mais velho e fortão, pelo menos você era respeitado por encarar a briga, e te deixavam em paz.

Não sei se dá para dizer exatamente quando começou essa geração mariquinha. Talvez tenha sido quando as pessoas começaram a se perguntar sobre o sentido da vida.

Se eu fosse mais disciplinado, poderia ter sido músico.

Meu pai morreu subitamente aos 63 anos. Simplesmente caiu morto. Por muito tempo, me perguntava: Por que não joguei mais golfe com ele? Por que não passei mais tempo com ele? Mas quando se está tentando fazer sucesso, a gente ignora essas pequenas coisas. Isso te dá um certo arrependimento mais tarde, mas não há nada que se possa fazer. Você simplesmente segue em frente.

Detalhes menores são menos importantes. Vamos em frente com as coisas realmente importantes.

O que aconteceu é que eu estava indo para a faculdade em 1950. Los Angeles City College. Um cara que eu conhecia frequentava um curso de interpretação nas noites de quinta-feira. Ele me falou das meninas bonitas e disse: “Por que você não vem comigo?” Então, eu provavelmente tinha segunda intenção além da ideia de ser ator. E ele estava certo. Tinha muitas garotas e poucos rapazes. Eu disse: “Mas é claro, eles precisam de mim aqui.” Acabei na Universal como ator contratado.

As pessoas no mundo inteiro adoram western. Tem aquela fantasia em relação a um sujeito que luta contra os outros. Ou até mesmo um mau sujeito e os outros. É um contexto mais simples, um mundo sem lei.

O último que fiz foi em 92. Os Imperdoáveis. Um roteiro maravilhoso. Mas parecia o fim da linha para mim nesse gênero, porque resumia tudo o que eu sentia sobre o western naquele momento.

Tive um problema no Conselho Municipal. Me lembro de me levantar e ver uma senhora que estava tricotando o tempo todo, sem nunca erguer os olhos. “Não, não, não”, ela dizia. E eu pensei: Não pode ser assim. Quando você é eleito, tem que pelo menos fingir que está interessado no que as pessoas estão fazendo. Como é que alguém  tem a cara de pau de simplesmente ficar sentado e não prestar atenção, não interagir? Isso precisava ser corrigido.

Ganhar a eleição é o tipo da notícia boa e má. Ótimo, agora você é o prefeito. A má notícia: agora você é o prefeito.

Garantir que as palavras “servidor público” não sejam esquecidas. Por isso eu me candidatei. Porque pensei, eu não preciso disso. O fato de eu não precisar me fez pensar que eu poderia fazer mais. É das pessoas que precisam disso que eu desconfio.

Barack Obama seria inimaginável quando eu era criança. Muitas orquestras grandes vinham a Seattle quando eu era jovem. Os músicos podiam tocar, mas não podiam frequentar o clube.

Você precisa conhecer alguém realmente, ser amigo de verdade. Minha mulher é a minha melhor amiga. É claro que eu me sinto atraído por ela, mas não se trata disso. Já me senti atraído por outras pessoas, mas depois de um tempo não conseguia mais suportá-las.

Tenho filhos com outras mulheres. Tenho que reconhecer o mérito de Dina por reunir todos eles. Ela nunca teve aquela coisa de ego da segunda mulher. O instinto natural poderia ter sido de matar todo mundo, uma mentalidade de mulher das cavernas. Mas ela conseguiu juntar todos. Ela é simpática com a minha primeira mulher, amigável com minhas ex-namoradas. Ela se esforçou para unir todos nós. Isso exerceu imensa influência na minha vida.

Não, eu não tenhoque treinar aquele grunhido. Simplesmente vou lá e faço. Quando você está no personagem, você está no personagem. Não fico pensando: Vou grunhir aqui, o u vou gemer ali.

É por isso que não ensaio muito e filmo imediatamente. Tenho ideias sobre para onde gostaria de levar o personagem, mas nós dois acabamos indo juntos.

Estávamos fazendo Na Linha de Fogo. John Malkovich está no topo de um prédio, numa situação bem precária. Meu personagem é louco, saca uma arma e enfia na cara de John, e John põe a boca no cano da arma. Eu não tenho ideia de que tipo de símbolo maluco era aquele. Nós certamente não ensaiamos nada parecido. Tenho certeza que ele não pensou naquilo quando ensaiamos. Simplesmente estava lá. Como sir Edmund Hillary falando sobre o porquê de fazer alguma coisa: porque está lá. É por isso que se escala o Everest. É como um pequeno intervalo de tempo, e assim como uma ideia vem rápido, você simplesmente a joga fora e descarta. É só fazer antes de descartá-la.

Continuamos dizendo sempre: “Chegamos até aqui, não vamos estragar tudo pensando.”

Você olha para um Velásquez da fase escura e pergunta: Como é que ele conseguiu pintar assim? Tenho certeza que ele não disse para si mesmo: “Estou aqui na  minha fase escura, então tenho que pintar dessa maneira.” Ele simplesmente pintou. É quando a verdadeira arte tem a chance de entrar em cena.

Menina de Ouro ganhou o Oscar. Foi legal, foi ótimo. Mas não dá para se impressionar com isso. Muitíssimos filmes bons não ganharam o Oscar, então isso não tem muita importância. Cartas de Iwo Jima foi indicado ao Oscar. Não ganhamos, mas aquele filme era o melhor que eu poderia fazer. Será que ele merecia menos do que algum outro filme? Mas há outros aspectos que entram em jogo. No final, você tem simplesmente que ficar feliz com o que fez. Ali está você. J

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