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sexta-feira, maio 25, 2012

Pênis que fala

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O pênis é a definição para o órgão sexual masculino. Contudo, o falo, do latim phallus, do grego phallós, também é a representação de pênis, como símbolo da fecundidade. 

Talvez essa seja a cínica confusão, que o falo, de que falamos no título, só que sem conjugação, sugira. Não queira exprimir nada, declarar, dizer, palavrear, tagarelar, discursar, conversar, nem se opor, com o silêncio e finalmente, calar.

Já era tarde e a fadiga ocular, mental e aquele sentimento de ter empobrecido intelectualmente após mais um dia eram as melhores companhias. Quem sabe alguma leitura minimizasse a sensação? E lá estava aquele desabafo raivoso, com todo o sentimento do mundo, que apenas merecia atenção.  Teve a minha.

Descrito com riqueza de vocabulário, com todo o cuidado para não ser banal. Sem repetições, com começo, meio e fim. Que final! “Não sou um pênis que fala” - me atrevo a parafrasear.

Não sei como a história que motivou os brados sinceros de origem tão particular foi finalizada. Isso na verdade não importa. A frase final ficou na minha mente por mais tempo. 

Veio-me a mente rostos conhecidos de outros homens que percebi /imaginei serem capazes de ter algum bom sentimento, honesto que fosse, num contexto onde havia uma mesa de bar, cerveja gelada e citavam ratos de laboratórios. Ninguém inveja o lugar dos ratos de laboratórios. Porém, todos fazem testes e planejam conquistar o mundo. Não o fazem?

Em outra conjuntura, onde um tom mais ácido os ofendeu. Apenas retiraram-se. Silenciosos, ambos. O ele em questão e seu pênis. Pena lembra-lo com seu olhar doce. Deveria esquecer.

Nossa sociedade é talhada por conceitos preestabelecidos que se disfarçam do politicamente correto, numa necessidade grosseira de criar modelos de indivíduos atualizados e com as respectivas capacidades em evolução. Porém, a liberdade e igualdade defendidas não são assim tão simples nas relações. O homem não aceita o mesmo tratamento que faz uso às vezes. Ele usa, não é usado. A marcha das vadias que não me deixa mentir.

Sugerir uma relação sem compromisso, onde o sexo é uma convenção social sem cobrança ou rótulos, pode insinuar modernidade em demasia. Há àqueles que resguardam seus membros, para que não sofram danos e ofendidos se emudecem, porque o silêncio também comunica. Desaparecem.

Em contrapartida, há os que se considerem bons demais para restringir a oferta. Porque sucessivamente haverá tempo e um lugar quente em algum ventre carente. Por que escolher um?

Os bons pagam pelos maus. As pessoas não são iguais, deveríamos lembrar-nos disso. Nunca o fazemos. Mesmo assim confundimos. Um pênis que fala?

Nessas mesmas conversas de bar, lembro de alguém ter sido ovacionado quando disse algo muito parecido com: “vagina é muito bom, pena que a mulher vem junto”.  Membros ganham personalidades próprias, nomes, apelidos. Falar seria um novo sentido. E as duas cabeças vulgarmente mencionadas, não faz ninguém mais inteligente, nem menos. 

Há pessoas além de seus membros sexuais, que sentem, sofrem, pensam. Algumas até são realmente capazes de amar, de ter sentimentos sinceros por outras pessoas. 

Outras são obsessivas não gostam de verdade de ninguém, apenas querem provar para si e para quem servir de plateia que conseguem fazer com que os outros gostem delas. Se apaixonem perdidamente, para que elas possam esnobar. Você conhece alguém assim. Se não, vai conhecer, lamento informar.

Esse tipo sempre terá um truque na manga, para fingir não estarem interessados, por necessidade de se sentir desejáveis. Essas pessoas não têm problemas em lidar com a rejeição, apenas não admitem em hipótese alguma que ela aconteça. Se seus membros de fato falassem, o que diriam?

Sei que o homem de fortes valores que originou essa reflexão não quis dizer a fala em sua forma literal, se disse mais do que apenas um objeto sexual. Dotado de emoções, considerações, raciocínio, personalidade, crenças, brio. Isso está cada vez mais raro. Não se identifica fácil em classe social, nem em lugares onde tecnicamente se deveria instigar inteligência... 

Durmo com essa agora, enquanto mulher independente, de que não devo usar ninguém. ;)

Hellen Cortezolli

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