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sábado, novembro 08, 2014

Patricia Bastos e Zulusa: a essência das raízes do Amapá num disco “muito moderno”

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Se o Brasil fosse gente, o Amapá era a sua cabeça. No meio do extremo norte do país, tendo mais à esquerda Roraima e abaixo, de “ombro a ombro” o Amazonas, o Pará, o Maranhão, o Piauí, o Ceará e o Rio Grande do Norte.

E por cima outros países de culturas distintas: a Guiana Francesa e o Suriname. Pois é do Amapá que nos chegam uma voz e um disco premiados este ano: melhor cantora regional e melhor álbum regional no 25.º Prémio da Música Brasileira 2014. Falamos de Patricia Bastos e de Zuluza, o seu quinto disco, em estreia absoluta no Misty Fest, esta quinta-feira no CCB, em Lisboa, pelas 21h.

Nascida em Macapá, capital do Amapá, a 18 de Abril de 1970, Patricia Bastos diz que sempre viveu cantarolando. “Acho que desde a barriga da minha mãe, que é também cantora [Oneide Bastos, com 37 anos de carreira e vários discos gravados]. O meu pai era músico, tocava percussão, e a gente vivia nesse ambiente musical. Os meus irmãos já cantavam, já tocavam e quando o meu pai trazia músicos para acompanhar a minha mãe a gente ficava por ali e ela já me chamava para cantar para cantar a minha música.”

A música chegava também através da rádio e da televisão. “Chegavam as da fronteira, da Guiana Francesa, o cacicó, o zouk. Ouvíamos também música portuguesa e, através dos LP que o meu pai comprava, vinham as novidades. Na época era o samba, o choro, as serestas.” Ora se aos 5 anos Patricia já cantava com acerto, aos 9 já integrava um grupo que actuava em festivais e aos 18 já cantava profissionalmente, na banda Brindes. Depois fez violão e voz, em bares, e finalmente gravou um disco em Belo Horizonte. Mas não a satisfez plenamente, era ainda uma mescla de pop e música regional. Só mais tarde, quando foi até São Paulo, começou realmente a trabalhar a música como queria.

“Uma cultura viva”

Em São Paulo conheceu, através de uma fita gravada, Ná Ozetti. E teve curiosidade em saber quem teria feito “aqueles arranjos lindos”. Foi assim que conheceu o irmão da cantora, Dante Ozetti, que agora produziu (com Du Moreira) o seu disco Zulusa, título que mistura zulus e lusitanos que, junto com os índios, estão na origem dos amapaenses. Patricia fez muita pesquisa e, desta vez, pôde incluir os sons mais genuínos da sua terra natal. Sons que tiveram, aqui e ali, acrescentos electrónicos que não os minimizam, pelo contrário. “É uma cultura viva”, diz Dante Ozetti. “Agora transformá-la em canções actuais levou-nos a vários compositores: o Joãozinho Gomes, o Enrico Di Miceli, que sempre fazem um marabaixo, um batuque, ou Amadeu Cavalcante.” Mais há mais, entre os compositores presentes, alguns já bem conhecidos do público português, como Vitor Ramil, Guinga, Celso Viáfora ou Luiz Tatit, além do próprio Dante Ozetti.

O disco”, diz Dante, “nasceu de um desejo de fazer um trabalho em cima das raízes da Patricia, das suas influências. Então foram seleccionados logo os ritmos marabaixo e batuque. O que havia mais? O cacicó, o zouk, de influência da Guiana Francesa...” “Ou a cúmbia”, acrescenta Patrícia. “A música Zuluza foi a primeira a ser feita e balizou o disco como um todo”, diz Dante. “Como não havia ainda um batuque, resolvi compor um em cima das inflexões rítmicas do batuque e o Joãozinho faz a letra em linguagem de corruptela. E fala dos instrumentos-base do batuque: o amassador e o dobrador.”

“Este é o disco que eu realmente queria”, diz Patrícia. “Estou muito feliz com este trabalho, porque além de ser um disco muito moderno, ele traz a essência da minha terra, das minhas raízes. Os prémios mostram que a gente está no caminho certo.”

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