A vênus platinada está perdida, acuada pelo movimento das ruas. e transmite en vivo como se tudo fosse carnaval. por isso, sou convicto:
Mídia marcha sem rumo diante das manifestações
Quanto mais forte e ágil a mobilização dos manifestantes que toma o país e chega até ao exterior, maior a perplexidade e as interrogações de autoridades do governo. A falta de uma liderança clara e a existência de uma pauta difusa de reivindicações se alia às ferramentas das redes sociais para consolidar uma onda de protestos imprevisível. A única certeza é a de que a indignação é generalizada e a população se identifica cada vez mais com o que acontece nas ruas.
Mas não são apenas governo e autoridades da segurança que parecem perdidos em meio às palavras de ordem dos ativistas. A própria mídia, com sua incurável mania de rotular e definir fenômenos sociais, atira a esmo, errando muitas vezes o alvo.
O Jornal do Brasil, atento às tendências, decidiu abrir um canal direto com as mídias sociais criando o espaço "Tá nas redes" e mostrando como os ativistas estão se articulando.
A gafe mais clássica talvez tenha sido a de Arnaldo Jabor. Semana passada, em sua crônica no Jornal da Globo, o comentarista questionou o protesto, comparando-o a manifestações criminosas de São Paulo. "Não pode ser por causa de vinte centavos", decretou, afirmando ainda que a maioria dos manifestantes era de classe média. "Tudo é uma imensa ignorância política. A causa é a ausência de causas. Esses revoltosos de classe média não valem nem vinte centavos", disparou precipitadamente para, na semana seguinte, após ser massacrado nas redes sociais, voltar atrás em sua coluna na rádio CBN:
"Outro dia eu errei, sim. Errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. Falei na TV sobre o que me pareceu um bando de irresponsáveis fazendo provocações por causa de 20 centavos. Era muito mais que isso", admitiu.
Mas os erros não param por aí. Numa onda de protestos que já foi batizada como "Revolta do Vinagre", "Primavera Carioca" e até "Salad Uprising" (Revolta da Salada), não é difícil perceber que aprisioná-la numa única definição é uma tarefa inútil.
Contudo, as tentativas persistem. Em seu blog no site de O Globo, o jornalista Merval Pereira resume de forma imperativa: "Mesmo que as reivindicações sejam várias e muitos cartazes exibam anseios mal explicados ou utopias inalcançáveis, há um ponto comum nessas manifestações dos últimos dias: a luta contra a corrupção".
O jornalista Reinaldo Azevedo, da Veja, não ficou atrás. Em seu blog, disparou: "Movimento Passe Livre, chamado de pacífico por certa imprensa, se nega a condenar saqueadores e diz que eles são protagonistas de uma "revolta popular". E ainda há gente que me pede para aplaudir essa gente! Não há a menor chance de isso acontecer!", escreveu para depois ser também atacado por ativistas que lembravam as inúmeras pautas de reivindicações que estão nas ruas.
No editorial desta quinta da Folha de S. Paulo, intitulado Incógnita nas ruas, o texto destaca cenas isoladas de vandalismo e a mobilização da classe média, para concluir que "...como na marcha de muitas cabeças, em São Paulo, é difícil prever onde esse caudal irá desembocar. Nem os manifestantes sabem".
Já o Valor faz conjecturas financeiras, alertando que a economia não gosta de incerteza, que os protestos assustam os investidores e que a questão social pode entrar de vez no radar do mercado.
Bem definiu o cientista político e professor da UFRJ Paulo Baía, em entrevista à GloboNews na noite de terça-feira: "Estamos diante de uma coisa nova. Quem tentar fazer comparações e definições estará cometendo um erro".
(*Colcha de retalhos/Tãgaha Luz, jornalista)
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