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terça-feira, junho 25, 2013

Xeque-mate (conto de Ronaldo Rodrigues)

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Com um potente soco na mesa ele decreta o final da partida. Sua gargalhada glacial ecoa pelas paredes musgosas do labirinto. Ele grita, com sarcasmo:
Xeque-mate! Você perdeu mais uma vez!

Fui vencido nas oito partidas que disputamos. Minha falta de habilidade deve ser paga com a vida. É o que leio em suas pupilas gigantescas, em seus olhos de touro enfurecido.

Perder significa o fim. Sua lei, imposta a todos os que são atirados ao labirinto, consiste no seguinte: quem o vencer será poupado. E quem perder será impiedosamente devorado.

Levanta-se e me fala pela última vez, do alto de seus dois metros e meio de estatura e arrogância, mastigando as lesmas que costuma comer durante as partidas:

– Pode ir embora! Ainda não é um adversário! Não ameaçou uma só vez, não fez um movimento consciente de defesa, não ofereceu resistência alguma! Não houve jogo, logo eu não venci e você não perdeu! Você não passa de um verme, um covarde, um tolo! E por isso está perdoado!

Não há notícia que ele tenha sido condescendente com algum adversário em toda a sua vida. Ele esboça um sorriso superior e indica a direção que devo tomar para encontrar a saída do labirinto. Depois, dá as costas e desaparece pelos intrincados corredores, levando seu tabuleiro de marfim em busca de adversários à altura.

Ainda perplexo, saio do labirinto. Sou aclamado como um herói. Afinal, eu sou a única pessoa a sair do labirinto em todos esses anos. E graças aos meus dotes de péssimo enxadrista.

Por ser um verme, um covarde, um tolo, escapei de ser devorado pelo Minotauro.

Ronaldo Rodrigues

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