Por Fernando Canto
Nos tempos áureos do Morro do Sapo, no bairro do Laguinho, quando a sede do Sete de Setembro Esporte Clube disputava com a do América Futebol Clube para ver qual era a mais social, nem tudo era só tranquilidade. Crimes ocorriam. Eventuais, sem grandes consequências, e outros violentos, envolvendo jovens que se perderam na cachaça. Alguns deles eram jogadores e frequentadores desses clubes, que cumpriram suas penas no chamado "cajual", do Beirol.
Do pátio de casa acompanhei o movimento dos adultos, principalmente nas festas juninas realizadas no entorno da sede do Sete, com aquele arraial tão característico, onde o pau-de-sebo, o quebra-pote e a pescaria faziam a alegria da molecada. Vi, ali, "moças-donzelas" lindas que desfilavam nos concursos de "miss caipira" e que se tornariam moças casadoiras e objetos de desejo dos rapazes solteiros que já tinham uma "boa colocação" no Governo do Território.


Enquanto o Sete de Setembro disputava o campeonato da segunda divisão no campo do América Futebol Clube (hoje Praça Chico Noé), o presidente Otacílio do Carmo, com suas eternas roupas de linho branco, dançava por horas seguidas sobre o assoalho encerado do clube com as moças de saias plissadas. Era um verdadeiro pé-de-valsa, imbatível na dança de boleros e merengues. Quando todos dançavam a molecada mais taludinha ia para embaixo do assoalho realizar suas primeiras experiências sexuais, olhando a paisagem pelas frestas.
Muitas histórias aconteceram ali naquela sede. Coisas que marcaram as testemunhas ainda crianças de uma cidade em evolução, nos meados da década de 1960. É inesquecível, para mim, o movimento de uma briga que durou mais de uma hora entre dois jovens e fortes atletas. Ela ocorreu após uma partida de futebol entre o Sete de Setembro e o Tijuca Futebol Clube, do Igarapé das Mulheres. Foi a consequência do resultado de uma partida entre os rivais Saci, atacante do Sete, e Macaco, do Tijuca, que explodiu na frente da sede do Sete até os dois cansarem e alguém considerar a briga empate. A história ficou famosa, pois nem a polícia se meteu.
Às vezes fico pensando nessas coisas incríveis do meu tempo de moleque. Incríveis mesmo, como o rosto brilhoso de suor do Otacílio, alcunhado de "Urubu Balado" por causa do seu jeito malandro de andar e de segurar a mulher para dançar; esta história da facada que não houve e da vítima desmaiada; da briga que não acabava e os oponentes já desprovidos de energia, combalidos, mas sorridentes e felizes com o resultado.
Do Sete ficaram, Indelevelmente, as cores das festas dominicais e o murmúrio da chuva deslizando sobre a piçarra da Rua São José.
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