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quinta-feira, agosto 15, 2013

Em duas rodas (crônica de Ronaldo Rodrigues)

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Você já deve ter visto a cena: o pai, a mãe e o filho (às vezes, dois) se equilibrando numa bicicleta já bem idosa.

Em Macapá, podemos ver um desfile assim. E não se trata de família circense. É a família comum que usa esse tipo de transporte e vai atravessando os anos. As maneiras de cidade grande, pelo menos no caos do trânsito, já estão chegando a Macapá, mas a bicicleta vai teimando em sua jornada.

Para todo mundo

Pode-se ver a família citada acima e também as almas solitárias. Zé Afonso é uma delas: “Eu não troco a minha magrela por nada. Ela me leva para todo lugar, pro trabalho e pro lazer. É um meio de transporte que não polui. E ainda me ajuda a descolar umas gatas”, finaliza Zé Afonso, mostrando que sua alma solitária também aprecia uma boa companhia.

Bem cedinho

Mal os raios de sol começam a inundar a cidade já encontram dona Glauci Pinheiro dirigindo sua velha bicicleta. Ela sai cedinho de casa, no Buritizal, e vai abrir sua barraca na feira do outro lado da cidade, no canal do Perpétuo-Socorro. “É ela que me leva todo dia. Não nega fogo. Tá até precisando de uns reparos. Vai entrar um dinheirinho extra e ela vai pra oficina ficar bem bonita”.

Cuidado com os ladrões

“Eu percorro a cidade toda no meu camelo. Gosto de andar pela orla, olhando o riozão sem fim”, diz Manoel Ribeiro Jr. “Mas tenho cuidado com aquele pessoal que dá o maior valor em bike, mas não gosta de comprar. Prefere a dos outros”.

Manoel refere-se aos ladrões de bicicleta. O índice de roubos em Macapá é grande e ele não descuida: “Fico de olho se a rua não está muito deserta. Nessas horas, eles aproveitam. E mandei reforçar o cadeado. Tem que tomar essas precauções. Já vi eles levando com cadeado e tudo”.

Ciclovias?

“Seria uma boa ideia”, diz Francisco Sacramento, mais um ciclista que reclama ação das autoridades. Segundo ele, as ciclofaixas, que as tais autoridades apelidam de ciclovias, não são apropriadas. Estreitas e esburacadas, são muitas vezes ocupadas por carros estacionados. “Aliás,” – prossegue Francisco. – “por falar em carros, nós, que usamos a magrela como meio de transporte, temos que tomar muito cuidado. Alguns motoristas nos veem como verdadeiros inimigos e jogam os carros pra cima de nós. É um absurdo, mais um dos absurdos”.

A grande irmandade

Outro dia, estando no terraço de casa, vi uma multidão de ciclistas passando pela rua lá embaixo. Alegres e bem dispostos, pessoas de diferentes idades, homens e mulheres se ocupando de uma bela noite de aventuras. Imaginei uma grande irmandade de ciclistas pedalando por entre as nuvens, rumo ao infinito.

Ronaldo Rodrigues

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