Você já deve ter visto a cena: o pai, a mãe e o filho (às vezes, dois) se equilibrando numa bicicleta já bem idosa.
Em Macapá, podemos ver um desfile assim. E não se trata de família circense. É a família comum que usa esse tipo de transporte e vai atravessando os anos. As maneiras de cidade grande, pelo menos no caos do trânsito, já estão chegando a Macapá, mas a bicicleta vai teimando em sua jornada.
Para todo mundo
Pode-se ver a família citada acima e também as almas solitárias. Zé Afonso é uma delas: “Eu não troco a minha magrela por nada. Ela me leva para todo lugar, pro trabalho e pro lazer. É um meio de transporte que não polui. E ainda me ajuda a descolar umas gatas”, finaliza Zé Afonso, mostrando que sua alma solitária também aprecia uma boa companhia.
Bem cedinho
Mal os raios de sol começam a inundar a cidade já encontram dona Glauci Pinheiro dirigindo sua velha bicicleta. Ela sai cedinho de casa, no Buritizal, e vai abrir sua barraca na feira do outro lado da cidade, no canal do Perpétuo-Socorro. “É ela que me leva todo dia. Não nega fogo. Tá até precisando de uns reparos. Vai entrar um dinheirinho extra e ela vai pra oficina ficar bem bonita”.
Cuidado com os ladrões
“Eu percorro a cidade toda no meu camelo. Gosto de andar pela orla, olhando o riozão sem fim”, diz Manoel Ribeiro Jr. “Mas tenho cuidado com aquele pessoal que dá o maior valor em bike, mas não gosta de comprar. Prefere a dos outros”.
Manoel refere-se aos ladrões de bicicleta. O índice de roubos em Macapá é grande e ele não descuida: “Fico de olho se a rua não está muito deserta. Nessas horas, eles aproveitam. E mandei reforçar o cadeado. Tem que tomar essas precauções. Já vi eles levando com cadeado e tudo”.
Ciclovias?
“Seria uma boa ideia”, diz Francisco Sacramento, mais um ciclista que reclama ação das autoridades. Segundo ele, as ciclofaixas, que as tais autoridades apelidam de ciclovias, não são apropriadas. Estreitas e esburacadas, são muitas vezes ocupadas por carros estacionados. “Aliás,” – prossegue Francisco. – “por falar em carros, nós, que usamos a magrela como meio de transporte, temos que tomar muito cuidado. Alguns motoristas nos veem como verdadeiros inimigos e jogam os carros pra cima de nós. É um absurdo, mais um dos absurdos”.
A grande irmandade
Outro dia, estando no terraço de casa, vi uma multidão de ciclistas passando pela rua lá embaixo. Alegres e bem dispostos, pessoas de diferentes idades, homens e mulheres se ocupando de uma bela noite de aventuras. Imaginei uma grande irmandade de ciclistas pedalando por entre as nuvens, rumo ao infinito.
Ronaldo Rodrigues
No Response to "Em duas rodas (crônica de Ronaldo Rodrigues)"
Postar um comentário