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domingo, agosto 18, 2013

O Dia que o Godão morreu (crônica/devaneio de Cíntia Souza)

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O nó na garganta deixou meu o corpo mole. Acordei de luto. A tristeza é algo que enfraquece de dentro pra fora, sem te dar chance de reagir. “Foi de repente”, “Eu falei com ele ontem”, “Disseram que foi o coração... Mas também, mano!”, “É! A boemia tem preço”.

Meu amigo morreu.  Meu parceiro morreu e a gente nunca viajou junto, digo, ao menos não para outros lugares. Por isso não quero ficar com as lembranças, muito menos pirar com aquela lista de tudo o que não fizemos ou me punir por não saber aproveitar melhor o nosso tempo. Só a ideia me irrita. Tá certo! Tenho problemas com a morte. Invejo kardecistas. Eles são tão serenos na hora da passagem. Eu acho que eles fingem. 

Godão, Godão, se você estivesse aqui com certeza iria tirar um barato. O povo chorando, contando histórias, rindo, contando histórias e chorando. Interessante, todos têm algo para contar. E agora, como eu vou saber qual parte dessa biografia é real? Vai virar lenda, hein. É melhor deixar quieto. 

Além dos amados, da família firme e forte, será que você imaginaria que fulano viria até aqui? Beltrano também veio! Vixe... foram muitos encontros e desencontros. Eu queria que você pudesse ver isso. Tenho certeza que já imaginou o próprio funeral. Afinal, quem nunca?

Não faz muito tempo, talvez haja dois ou três meses, você postou algo sobre a sua rotina no trabalho e eu comentei citando a letra de uma música que a gente curte: “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”, e você emendou, “Eu te desejo muitos amigos, mas que em um você possa confiar”.

Sobre essa coisa da morte repentina, sabe o que mais revolta? A gente nunca foi do tipo que compartilha frases de Caio Fernando Abreu no facebook. A gente vivia na vera. E como vivia. Éramos Carpe Diem total! E, não sei se pelo fato de sermos jornalistas, mas fazíamos questão de registrar tudo. Tinha quem nos considerasse exibicionistas. Comédia! É injustiça tirar a vida daqueles que tentam aproveitá-la ao máximo. É isso o que revolta! E nós sabíamos aproveitar a vida como poucos.

Não sei por que conjuguei o verbo no passado. Afinal tudo isso foi apenas um sonho. Acordei fraca, com sede e com aquela aflição entranhada na alma. Passei a manhã pensando se aquele sonho teria algum sentindo, um significado especifico. Não encontrei nada até agora. Mas, ainda durante a manhã falei contigo in box, e te fiz me prometer que não vais morrer. Você jurou. 

O fato é que as pessoas morrem. Para quê, né?! Mas acontece. E sempre foi assim desde o começo. Dizem que teve um cara que foi e voltou, rasgou o véu, desceu a mansão dos mortos, mas depois ninguém nunca mais o viu. Há quem espere seu retorno. 

Daí eu fico pensando se há uma solução para isso. Mas não sei se queria ver alguém retornar do lado de lá... Creio na cruz!

Cíntia Souza, jornalista, assessora de comunicação e querida amiga deste blogueiro.

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