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quarta-feira, maio 29, 2013

16 anos sem Jeff Buckley, o Hendrix de uma geração

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Cada geração tem o seu Jimi Hendrix. Entenda a comparação menos com o mito da guitarra, mais com o músico genial que foi embora cedo demais, e que ainda prometia prestar bons serviços à música. Meu Hendrix – e de muita gente por aí – se chama Jeff Buckley. Ele morreu de forma bizarra, em 29 de maio de 1997, depois de um mergulho em um rio, em Memphis (EUA). Um resumo rápido para viajar um pouco nas linhas tortas do destino: Buckley estava morando na cidade de Elvis, produzindo seu segundo álbum. Seus parceiros de banda chegariam depois e, antes de o músico ir encontra-los, resolveu dar um mergulho no Rio Wolf. Um amigo ainda o ouviu cantando Whole lotta love, do Led Zepellin, antes que uma lancha passasse por perto, fazendo uma onda e, assim, afogando Buckley, encontrado depois de alguns dias.

Assim de forma simbólica – nas águas de um afluente do Mississipi, cujas margens banharam grande parte da música norte-americana – foi se embora o homem que Bono Vox definiu brilhantemente como uma “gota pura em um oceano de ruído”; o músico que recebeu elogios rasgados de Jimmy Page e Robert Plant; o compositor que causava inveja a Elvis Costello; o vocalista que fez Elisabeth Frazer (do Cocteau Twins, um dos gogós mais impressionantes do pop) “suar como uma noiva em junho” (segundo ela disse), quando o escutou pela primeira vez. O leque de admiradores confessos é gigantesco, uma área VIP interminável de fãs.

Justo, justíssimo. Buckley é um daqueles que estão acima de palavras. Daqueles que valem o blablablá de “o homem se foi mas o artista ficou.” A obra, espalhada em um álbum oficial (o irretocável Grace, um dos três melhores álbuns dos anos 1990), outro de registros póstumos, compilações de singles, discos ao vivo e tesouros encontráveis na internet, é manancial a ser explorado com calma e dedicação.

Filho do famoso trovador folk dos anos 1960 Tim Buckley (com quem teve pouquíssimo contato), dividiu com o pai, além da morte precoce, o gosto por música exótica (um dos seus maiores ídolos era o paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan), a beleza física, o alcance inacreditável da voz, a sensibilidade nas seis cordas e o poder de harmonizar de forma quase milagrosa. Teve uma vantagem: enquanto o pai ajudou a escrever o melhor do rock nos anos 1960 e 70, Jeff teve uma história gigantesca para estudar, explorar, reescrever. E ele deitou e rolou nesse sentido, mostrando que ecletismo, versatilidade e bom gosto não são palavras que podem ser vestidas em qualquer um.

Ainda que a melhor iniciação à obra dele seja Grace, de 1994, bastante autoral, onde repousam obras como a faixa título e Last goodbye, o Buckley mais impressionante está em Live at Sin-É”. O álbum duplo registra o gênio ainda acompanhado apenas de sua guitarra em um pequeno café, que ele chamava de lar, no East Village, em Nova York, no começo dos anos 1990. Deus do céu, eu só queria estar lá. Queria que você leitor estivesse também. 

Toda gente de bem mereceria escutar o que Jeff fazia com algumas de suas canções favoritas, sejam elas as nossas canções favoritas também, como The way young lovers do, de Van Morrisson; If you see her say hello, de Bob Dylan, Night flight, do Zepellin, sejam as favoritas recentes dele, como a belíssima Calling you , tema de um belo filme da época, Bagdad Café, ou então ele fazendo de Dinks song, clássico folk ianque, uma viagem sonora acima de qualquer descrição. Malabarismos musicais puros, sem rede de proteção, onde Buckley bailava acima de todos os outros, equilibrado por uma técnica incrível. Mas o que o fazia andar era sem dúvida uma intuição e paixão gigantesca.

Ele se foi cedo, sem ter a chance de confirmar as inúmeras apostas de ser “o grande músico de sua geração”, feitas pela mídia. Os fãs sabem seu papel. Alguém consegue, em um exercício mágico de imaginação, mensurar o que estaria fazendo Hendrix ainda vivo? A mesma pergunta fazemos sobre Jeff Buckley.


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