Resgate das tradições: Ponto de Cultura Povo de Fé e de Festa inaugura nesta quarta-feira em Macapá

Devoção, expressões culturais e laços comunitários marcam os festejos dos Encontros de Folias, dedicados aos santos no Amapá. Reverenciados em diferentes localidades, essa manifestação secular de fé, considerado patrimônio imaterial do Amapá, ganha força nesta quarta-feira, 29, com a inauguração do “Ponto de Cultura Povo de Fé e de Festa”, que através de pesquisas, organiza o inventário de 14 Encontros de Folias realizados no Estado, no intuito de oferecer à população amapaense, em especial aos órgãos públicos, informações sobre esse patrimônio imaterial, a fim de subsidiar ações e políticas públicas de proteção, salvaguarda e valorização dos bens culturais.

Encontro de Folias

A programação de um Encontro de Folia envolve alvorada nas residências, rezas, ladainha em latim, Marabaixo ou Batuque, quebra e levantamento do mastro, fogos, matança de bois para o oferecimento da caldeirada a todos os presentes, festa até o raiar do dia, e representa a devoção das famílias ao santo honrado. Tudo é executado pelos foliões, que se organizam em uma comissão investida de poder e responsabilidades distribuídas em escala hierárquica. Centenárias, os Encontros de Folias são mantidos de uma geração a outra. A maioria surgiu de dívidas de promesseiros, mas transformaram-se em manifestações culturais, revivida a cada ano pelos descendentes.

Mas Folia mesmo são as cantorias criadas especialmente ao santo para ser cantada durante os festejos dedicados a ele. Para cada momento há uma folia: Primeira Folia, Folia Antes da Novena, Folia Depois da Novena, Folia do Dia do santo, Folia para cortar o mastro e para derrubar o mastro, e tantas outras, dependendo da localidade. E são essas letras e rezas, em geral criadas e rezadas pelos mais velhos da comunidade, que o “Ponto de Cultura Povo de Fé e de Festa” quer preservar, registrar, para que não se perca no tempo e com as novas gerações.  

“Em sua maioria, os moradores não sabem quando se iniciou a festa em sua comunidade e nem quem foram seus fundadores, ou seja, a memória de sua origem se perdeu no tempo, mas a geração presente referencia suas antecessoras, resguardando seus ensinamentos, dando continuidade e garantindo a perpetuação de seu legado. Os cânticos estão sumindo, por conta do avanço das igrejas evangélicas, dos velhos não repassarem aos novos. As folias são identidades únicas de uma localidade e é necessário resguardá-las, e nossa proposta é fazer isso junto ao Iphan, garantindo-se medidas de salvaguarda”, conta a pesquisadora Decleoma Lobato.

Trabalho de resgate e preservação da memória

A criação do Ponto de Cultura Povo de Fé e de Festa foi proposta pelos membros da Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular, que desde 2009 desenvolvem pesquisas de resgates dessas memórias. A primeira comunidade estudada e inventariada foi Carvão, em Mazagão Velho, onde se festeja São Tomé, depois vieram as festas de N. S. da Conceição, no Maracá; São Gonçalo, no Mazagão Velho; São Sebastião, no Mazagão Novo; Divino Espírito Santo, da Tribo Karipuna, em Oiapoque. A proposta é inventariar 14 Encontros de Folias, no entanto, durante as viagens, a equipe de pesquisa descobriu a existência de outras dezenas.

Iniciado em 2009, o trabalho de inventario dos Encontros de Folias está previsto para ser finalizado em janeiro de 2014 e vai resultar na produção de documentário de cada Folia, livro fotoalbum, instalação de software banco de dados, com acesso a vídeos, imagens, documentos e textos das pesquisas.  As localidades inventariadas e suas festividades são: Mazagão Velho (Nossa Senhora da Luz, Divino Espírito Santo, São Gonçalo); Distrito do Carvão (Nossa Senhora da Piedade e São Tomé), Ajuruxi (São Pedro), Mazagão Novo (São Sebastião, São Benedito), Curiaú (São Joaquim, Nossa Senhora da Piedade), Igarapé do Lago (Nossa Senhora da Piedade), Cunani (Santa Maria), Maracá    (Nossa Senhora da Conceição), Oiapoque (Divino Espírito Santo (Karipuna).

A inauguração do Ponto de Cultura será nesta quarta-feira, 29, às 16h30, no auditório da Biblioteca Pública Elcy Lacerda, onde funciona a sede do Ponto, na Sala de Folclore e Cultura Popular. Lá, são disponibilizados acervo composto de livros, CDs, DVDs, periódicos, relatórios de pesquisa e outros materiais referentes ao folclore e as culturas populares do Amapá, material resultante dos trabalhos realizados por seus membros e recebidos de entidades. No espaço da Associação é oferecida orientação à pesquisa aos alunos do Ensino Fundamental e Médio e das Instituições de Ensino Superior.

Rita Torrinha – Assessoria de Imprensa