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quarta-feira, maio 01, 2013

Arte da mentira verdadeira (crônica de Michelle Mesquita)

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Ser pego na mentira (quero dizer, ser pego contando uma enorme e deslavada inverdade – isso mesmo, uma inverdade; mentira é uma palavra muito forte) é a coisa mais comum e mais embaraçadora do mundo. Sinceramente não creio que haja algo mais vergonhoso do que ser desmascarado – é, talvez haja: ser pego roubando, por exemplo, para uns; para outros é coisa normal. Mas enfim, voltando à mentira...

Há algum tempo, em conversa com um amigo, explicava para ele a importância de saber mentir. Mas quando falo em mentir, não é só a mentira em si. Há toda uma estrutura que faz com que a mentira seja aceita – ate por você mesmo – como verdade absoluta e não seja contestada nunca. 

Bem, lá vai. Antes de mentir, você tem de pensar na mentira que vai contar, ou seja, nunca minta de supetão. Pode-se até dizer que essa é a regra nº 01. Pensar na mentira quer dizer que sua historia tem de ter nexo, lógica e fundamento. 

Uma mentira é como uma ponte de safena. Você fará uma operação, uma incisão na real história e colocará a sua nova estória, seu novo ponto de vista ou quem sabe, sua pequena omissão, para criar uma nova verdade. E como qualquer procedimento cirúrgico é preciso costurar, suturar bem em todos os pontos. Por isso, sua estória é como uma rede, uma teia, isso, uma teia. Você tem de amarrar todas as pontas, onde nada pode ficar solto, para que não haja ponto controverso e conseqüentemente, você venha a ser pego. Percebes a importância de pensar antes de mentir??? Além de pensar, não se esqueça de estabelecer o momento em que começa e que termina sua mentira. Esse será o ponto onde você costurará sua estória. Pronto. Agora estabeleça sua nova versão dos fatos. 

Depois de definir a nova versão, de verificar que não haverá pontos divergentes e que cobriu todos os possíveis questionamentos, aí sim, você terá sua mentira, uma quase verdade a sua disposição para ser usada a qualquer momento. 

Agora, antes de usar efetivamente sua pequena mentirinha, você precisa repeti-la a si mesmo, várias vezes. Várias vezes mesmo. Inúmeras vezes. Repetir até que você conheça todos os detalhes dela de trás para frente, de frente para trás e em todas as direções. Isso é necessário para que tenha convicção do que está falando, para que consiga convencer a si mesmo, quanto mais à outra pessoa.

Outro pequeno detalhe, que não é tão pequeno assim, mas que é importantíssimo. Caso não tenha a habilidade de contar inverdades olhando nos olhos do seu ouvinte, basta treinar na frente do espelho. Procure não desviar os olhos. Fale olhando para você mesmo. Afinal, se não consegue contar uma mentirinha de nada para si mesmo, como espera convencer os outros??? Então, TREINE. 

Uma coisa que não pode ser esquecida também é de que para ser um bom mentiroso, você precisa ter boa memória. O mentiroso esquece a mentira que contou, mas o ouvinte não esquece nunca. Logo, se contou uma estória hoje, vai precisar lembrar-se dela daqui a 10 anos. Isso nos leva a repetição, então repita sempre. Repita em sua cabeça várias vezes mesmo. Você verá que no final, até mesmo bêbado você conseguirá mentir e sustentar sua estória para sempre. 


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