A primeira lembrança de banda irlandesa The Cranberries que eu tenho é de uma propaganda de um álbum de canções românticas que continha a canção Linger, gravada no 1º disco da banda, 1993, intitulado "Everybody is doing it so why can we?", que traduzindo literalmente diz: Todo mundo está fazendo isso então por que nós não podemos fazer? Suponho que eles falavam de música, mas quem pode saber?
Lembro que de cara achei a música muito bonitinha, e quem não acha, afinal? Na época, acho que 1994, era bastante difícil, pra mim, ter acesso a Cd's e demorou um tempo pra que eu ouvisse as outras músicas do álbum, mas nunca esqueci do refrão que tocava na propaganda.
"But I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger..."
Através de amigos eu consegui gravar os cds da banda, em K7. Gravei o primeiro, que nunca havia ouvido inteiro, e o segundo, que por volta de 1996 já havia sido lançado.
A primeira canção que cantei da banda foi "Dreams", com uma bandinha de formação de duas semanas, com a lenda do rock amapaense Beah, um fã assumido da banda.
O segundo álbum "No need to argue" causou um impacto maior em mim. Ainda bonitinho e cheio de canções que parecem românticas, e algumas até são de fato, trazia uma das canções mais fortes e polêmicas (por que não?) da década de 90. Zombie, a canção de riffs pesados e marcantes virou quase que uma marca registrada da minha banda. Pois é, na época eu cantava numa banda de rock, formada só por meninas, que tocava praticamente só bandas com vocal feminino, entre elas, The Cranberries.
Não havia uma festa, uma canja pra os amigos, uma "rockada" que dispensasse Zombie. Como muitos não sabiam o nome da canção, embora fosse simples, chamavam de "Sinhorrê". Pois é, o parco conhecimento da língua anglo-saxã se referia a um trecho da canção que diz "in your head".
Essa música sempre mexeu comigo. Apesar de saber que muita gente não sabia o que significava e de que outras achavam que se tratava de uma canção de amor, eu sabia que era uma canção triste, que falava sobre guerra e sobre intolerância. A banda faz referências claras sobre a disputa entre católicos e protestantes que divide a Irlanda. Vide vídeo da música que é bem foda.
Os álbuns seguintes eu fui acompanhando à medida que foram sendo lançados, e algumas das canções que os compunham ganharam versões covers na Drops Heróína, minha banda, como Salvation, Hollywood, Just my Imagination, Promisses, Animal instinct. Todas elas sempre com seus admiradores e apaixonados.
Eu cresci, tive várias outras bandas depois da Drop's heroína e nunca, nunca deixei de tocar os irlandeses. Maior parte disso motivado pelos fãs da banda que não me deixam escapar e sempre pedem, eu por gostar tanto, acabo cedendo. Mas eu sou facinha, pelo menos quando se trata de cantar aquilo que eu gosto. E de The Cranberries eu gosto.
The Cranberries lembra minha adolescência, o início do meu relacionamento com o rock, com o universo alternativo, lembra-me dos primeiros amores, dos lugares que foram referências pra minha geração e que já não existem mais. Me faz lembrar das rodas de violão em noitadas infinitas, dos amigos na madrugada, das caminhadas rumo à beira do rio. Lembra-me dos bares por onde andei e cantei. A banda nunca saiu do meu repertório, nem acho que sairá. Ou será que um dia alguém vai deixar de ouvir? Duvido. Uma amigo postou numa rede social outro dia que música boa não fica velha. E eu concordo!
Por fim, Macapá anda numa onda de Especiais. Los Hermanos, Coldplay, Led Zeppelin, Beatles, Pink Floyd. Grandes bandas homenageadas pelas bandas locais. Não resisti e resolvi fazer um também, pra homenagear a banda que me ajudou a passar pela vida com delicadeza e a força que todo bom rock and roll tem.
Espero vocês por lá.
Rebecca Braga
No Response to "Eu canto The Cranberries (por @rebeccabraga)"
Postar um comentário