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segunda-feira, junho 03, 2013

Com o pastor alemão do rock nas ruas de Macapá, em busca da mulher que será a mãe de seu próximo filho. No caso, uma filha que se chamará Lilith (crônica de Ronaldo Rodrigues)

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Coloco Bob Dylan na vitrola (no som do computador) para escrever esta crônica ouvindo Jokerman.

Pois bem. Como eu ia dizendo/escrevendo ou esquecendo, peguei uma carona no acaso, que promove os melhores encontros, e fiz companhia ao bardo conturbado do bairro da Vacaria em seu passeio pelas ruas esburacadas e sem calçada da Tucujulândia, nas adjacências de Macondo.

Pra quem não sabe, ou mesmo pra quem já sabe, Vacaria é aquele lugar que as leis e seus perpetradores transformaram em Santa Inês. Com certeza, sem consulta popular. Ele me diz que não há uma Inês sequer no bairro, o que poderia justificar o nome.

Outras indignações ligadas a nomes de bairro vêm à mente, como a Favela, transformada em Santa Rita, e a quase morte do poético nome Laguinho.

Pois bem, de novo. Pegamos um ônibus pra assustar os passageiros com nossos papos sobre literatura e morte e suicídio e carma e drogas. Um brinde a tudo isso nesta manhã quente de segunda-feira.

Fomos ao Museu da Imagem e do Som, no Teatro das Bacabeiras. Não sei se tem a ver com administração atual, mas o Museu da Imagem e do Som estava fechado. Sem som e sem imagem. Mas prossigamos por este vale de lágrimas que nem sempre vale uma lágrima.

O anjo Galahell procurava uma mulher bruta, inculta, um campo pronto a ser semeado com toda a sorte de dialetos, delírios, música e a santa diabólica poesia. Ao som da história e da histeria do rock.

Uma mulher para ser a mãe de sua filha, que se chamará Lilith, aquela mesma que foi repudiada pela Bíblia por ser a face insubmissa da mulher. O livro sequer aponta a sua existência. Em seu lugar, colocaram a doce Eva, num paraíso que se perderia por conta da própria dona de casa, para que ela carregasse esse peso e que fosse justificada toda a carga de históricas e histéricas injustiças contra a mulher.

Galahell, que iniciou o dia como agnóstico, ateu ou coisa parecida, constatou a existência de Deus nas mulheres que passavam a nossa volta, todas Nefertites (eis que é chegada a mais bela). Todas escapando da proposta de ser a mulher que daria à luz uma outra mulher para que se iniciasse o novo ciclo da evolução humana: a pós-história, a que tem possibilidade de dar certo.

Tudo isso ainda há pouco, na manhã radiante de segunda-feira, 3 de junho de 2013, século XXI, milênio III, aniversário de meu filho Pedro. Com ele a sabedoria e a glória.

Aumento o som e vamos com Bob Dylan: knockin’ on heaven’s door.

Ronaldo Rodrigues

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