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quinta-feira, setembro 25, 2014

Nesse Sábado tem Especial Eduardo Coutinho no Espaço Caos

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Quando a voz de Eduardo Coutinho, no início de O Fim e o Princípio, anuncia a proposta do filme, estamos com as regras dadas. Diz o diretor que quer histórias: não importa quem as conte. Seguindo um método apenas parcialmente aleatório, escolhe uma localidade do munícipio de São João do Rio do Peixe, Paraíba, como endereço de sua viagem. É o Sítio dos Araçás, comunidade rural onde vivem 86 famílias, idade média acima dos 70 anos. Ao eleger uma moradora do povoado como "relações públicas" nos contatos iniciais com os entrevistados, Coutinho encontra seu filme. 

É lá que a aventura envereda pelo imaginário do sertanejo, resultando em um filme forte, sem pesquisa prévia, que revela vidas marcadas pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso familiar e pela honra, além de temperos de profunda superstição. Um ou outro resiste a falar, mas, aos poucos, vão se revelando. Contam da infância com enxada na mão, sobre os namoros e casamentos, até demonstrarem medo, ou ao menos consciência, da morte não tão distante. Mansamente, bem ao seu estilo, Coutinho vai colocando perguntas a torto e a direito, com infinita paciência para ouvir.

A maioria dos entrevistados é de pessoas idosas. Dois deles acreditam que, quando o filme estiver pronto e Coutinho retornar lá para exibi-lo, já não estarão vivos para assistir. Se revela em mais de um momento que os sertanejos têm pensamentos sólidos sobre a vida, praticando uma filosofia na qual os conceitos são fundidos à experiência real, O Fim e O Princípio expõe, antes de mais nada, a postura de seu diretor em seu espaço de filmagem. Nunca ouvimos tanto a voz de Coutinho, nunca ele teve de intervir tanto para arrancar palavras dos interlocutores, nunca sua respiração foi tão audível, nunca o jogo foi tão invertido.

Toda a força emotiva de O Fim e O Princípio surge, acima de tudo, pelo caráter aleatório daqueles encontros. Quando um afeto brota em suas relações temporárias e funcionais, já está na hora da equipe sair dali e romper os laços recém-criados. Essa ausência garantida de antemão, mais que a presença (de equipe, diretor, entrevistados), ressalta a impressão de finitude. Alguns intuem que jamais verão Coutinho. Esse "jamais", queira-se ou não, tem estatuto de morte. De um nunca mais. De um desaparecimento. Quando o diretor vai se despedir, portanto, há uma despedida maior ali. Não se trata de um "até logo", mas de um "adeus", ao menos até que a vida prove em contrário. Mas um adeus que, quando chega às telas, presentifica os encontros do passado, fazendo da memória uma eternização, portanto, parte de todos os presentes a serem vividos.

Serviço:
Dia: 27/09
Horário: 19h
Entrada free


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